Monday, August 27, 2007

Coisas em que acredito

«A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nessa vida».
Vinicius de Moraes

Tuesday, August 14, 2007

Thursday, August 09, 2007

Focus

Os 40 anos têm vantagens. Compreende-se que acabou o tempo para borboletas atraídas pela luz do poder, amigos ambíguos, princesas da ervilha, donos da verdade, manipuladores, fofoquices. Há que manter o foco no que realmente interessa: bom trabalho e amor verdadeiro. Aqui fica a bela história de Sofia, para ilustração e exemplo.

Thursday, July 19, 2007

The way I feel at 40 years old
«Qui primavera sempre ed ogni frutto», Dante
«Ragionando con meco ed io con lui», Petrarca


«Ama-me que te amo» - dá-me tua vida;/
«Ama-me porque te amo» - em nossa glória/
Seremos iguais na terra florida/
Do amor que não conhece divisória

O amor é feito em pedra e não areia,/
O amor ri-se no meio da tempestade./
E quem apagou do amor a candeia?/
E quem tolheu do amor a liberdade?

Mau grado o diga meu coração parte;/
Pouco nos vemos, muito nos esquecemos:
Aí está um problema pr'à tua arte!

Contudo diz a Bíblia que nós lemos:/
Se o ciúme é morte e a morte é forte,/
O amor porém é forte como a morte.

Christina Rossetti (1830-1894)

Tuesday, June 26, 2007

http://www.youtube.com/watch?v=9cNjTYsy_1E
Para o J., a nossa canção

Wednesday, June 20, 2007



Colheita de 67

Miss Nicole Kidman faz hoje 40 anos. Parabéns!Esta colheita de 67 é muito boa.

Monday, June 18, 2007

Não lhe chamem condessa que a põem tensa

Quando era criança, ambicionava ter mordomo. Ele entraria na drawing room, impecavelmente britânico, e servir-me-ia o Earl Grey, chamando-me «Milady». Como de costume, a vida encarregou-se de me render à evidência que o senhor não se adaptaria à geografia de um T3 em Benfica. Mas há quem mantenha, na vida adulta, a elevação dos sonhos de infância. É o caso de Beatriz Batarda. Como se sabe, os questionários de Proust e outros inquéritos jornalistícos são espaços onde os notáveis da nossa praça gostam de se mostrar com toda a sinceridade. Mas, no último JL, a actriz chega a ser comovedora. Interrogada sobre os seus lugares de eleição, as escolham recaem sobre: «um centro hípico». Porquê? Porque «quando era criança passava os fins-de-semana no Centro Hípico Quinta da Marinha». Em Lisboa, prefere a «esplanada do Hotel Ritz de Lisboa, da piscina do Hotel Tivoli de Lisboa, da vista do Hotel do Chiado». No entretanto, o Ambrósio toma a liberdade de pensar nos Ferrero Rocher.


Para o Thiago, a nossa música, porque há amizades que saem reforçadas de uma tarde à chuva.

Tuesday, June 12, 2007



Noite de Santo António, noite de Lisboa

É, entre todas as noites festivas, a que prefiro. Não que tenha qualquer paixão gastronómica por sardinhas, mas a cidadania de Lisboa está-me nos genes (pertenço a uma das poucas famílias que tem, pelo menos, quatro gerações consecutivas de nados na cidade) e, como tal, esta noite em que se troca uma proverbial melancolia por música e balões coloridos tem o dom de me comover.

Gosto da confusão de Alfama, das bancas que vendem arroz doce, dos toscos tronos a Santo António, dos mangericos viçosos que, chegados a casa, duram poucos dias, do deslumbramento dos turistas.

E gosto muito daquilo em que a lenda popular transformou um doutor da Igreja.

Monday, June 04, 2007

Lovers go home!

Ahora que empecé el día
volviendo a tu mirada,
y me encontraste bien
y te encontré más linda.

Ahora que por fin
está bastante claro
dónde estás y dónde estoy.

Sé por primera vez
que tendré fuerzas
para construir contigo
una amistad tan piola,
que del vecino
territorio del amor,
ese desesperado,
empezarán a mirarnos
con envidia,
y acabarán organizando
excursiones
para venir a preguntarnos
cómo hicimos.

Mario Benedetti

Friday, June 01, 2007



A 25 de Setembro lá estaremos. Police forever!

Thursday, May 31, 2007

A ler: a belíssima autobiografia de António Pinto Ribeiro no próximo JL, a publicar na quarta-feira, 6 de Junho.

Monday, May 28, 2007



A revista feminina mais transgressora da História acaba de completar 10 anos. A francesa jalouse continua a ser um farol para quem se interessa pelo que de mais vanguardista se faz em moda mas também para todos os que se ocupam das culturas urbanas. O número de aniversário revisita o que de melhor publicou durante a década e aponta pistas para o futuro. Aqui seguem os parabéns de uma leitora incondicional.

Thursday, May 24, 2007


The Cure, Want

«There are no second acts in american lives», diz ela, citando Scott Fitzgerald, enquanto se aproxima do BIG 40!

Wednesday, May 23, 2007


O craque encaixilhado

Recordo-o envolto numa nuvem de fumo, as pontas dos dedos amareladas pelos cigarros «Porto» que fumava incessantemente. Era assim o meu avô materno, Fernando de seu nome, morto aos 62 anos, um mês depois do 25 de Abril, quando eu ainda não sabia que coisa estranha era essa de perder alguém que ainda ontem nos carregara às cavalitas. Homem alegre, mas marcado pelo duro quotidiano do Portugal salazarista, criara as três filhas à custa de muita acrobacia orçamental e de um silêncio ressentido sobre qualquer assunto que, mesmo de leve, «cheirasse» a Política.
Este meu avô tinha, quando cheguei à sua vida, duas paixões maiores: os dois netos e o Benfica. Contemporâneo dos grandes feitos do clube nos Campeões Europeus, passava os seus melhores domingos no então recém-construído Estádio da Luz. Em tarde de maior empolgamento, chegou a casa determinado a pregar a foto de José Águas na parede da sala, entre os retratos de família. Ao que minha avó se opôs, imagino pelo que dela lembro, com uma determinação tão serena quanto inabalável. O retrato encaixilhado do craque foi guardado numa gaveta, mas meu avô remoía ainda no modo de expressar condignamente a sua paixão pelo «Glorioso».

Numa outra tarde chegou a casa com novidade mais consensual. Um cachorro de pata curta, a indicar que não tomaria maiores dimensões. Já trazia nome, informou. Que era – surpresa das surpresas – Benfica. O animal tão amorosamente designado cresceu em rafeirice e escassa simpatia. Sem que ninguém o instruísse para tal, atacava voluntariamente visitas e cobradores. Tinha, no entanto, um ódio de estimação, a cujos passos, no patamar, reagia, mês após mês. A fúria do animal atingia o auge quando, a medo, com as quotas por cobrar, o homem anunciava de onde vinha: «Benfica!» Sentindo-se provocado ao julgar ouvir o seu nome na boca de um desconhecido, o modesto canídeo adquiria então a raiva de um pittbull. A cena entrou rapidamente no anedotário dos sportinguistas locais, mas jamais beliscou a dedicação clubística da família. Só a minha avó, envergonhada pelo falatório da vizinhança, pensava que, mal por mal, mais valia ter ficado com o retrato de José Águas.

Friday, May 18, 2007

Aguento estoicamente enquanto conto os dias. Itália espera-me daqui a um pouco mais de um mês. Desejo-vos um esplendoroso fim-de-semana!

Thursday, May 17, 2007

AMOR

Mi manera de amarte es sencilla:
te aprieto a mí
como si hubiera un poco de justicia en mi corazón
y yo te la pudiese dar con el cuerpo.

Cuando revuelvo tus cabellos
algo hermoso se forma entre mis manos.

Y casi no sé más. Yo sólo aspiro
a estar contigo en paz y a estar en paz
con un deber desconocido
que a veces pesa también en mi corazón

Antonio Gamoneda
Manhãs

«Decidiu recordar o que amara na vida. As músicas preferidas, o perfume delicado dos cravos, o sabor da pimenta-preta, o champanhe, o pão fresco, os bons momentos na companhia dos entes queridos, o ar depois da chuva, o vestido azul, os melhores livros. Fora bom, mas não lhe bastara
(...)
Também se lembrou de que gostara muito das manhãs.
(...) o que se passava durante as noites, para que o ar se mostrasse sempre renovado de manhã? Que redenção perpétua era aquela?E porque não se salvavam todos aqueles que o respiravam?
Traidora era aquela luz inefável, promessa de um dia perfeito, genérico muito superior ao filme que se seguiria. Todo o prazer dos dias está na manhã com que começam, dizia alguém».

Amélie Nothomb, Ácido Sulfúrico, Edições Asa

Tuesday, May 15, 2007

http://www.youtube.com/watch?v=e-At6avvY_4

Friday, May 04, 2007

TPC

Haverá laços entre pessoas que têm existência própria para além da vontade e dos projectos dos enlaçados? E, se assim for, significa que é connosco que Deus joga aos dados? Aceitam-se respostas para este «apartado». Bom fim-de-semana!

Thursday, May 03, 2007

Gracias a la vida

(Violeta Parra)


Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio dos luceros que, cuando los abro,
perfecto distingo lo negro del blanco,
y en el alto cielo su fondo estrellado
y en las multitudes el hombre que yo amo.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el oído que, en todo su ancho,
graba noche y día grillos y canarios;
martillos, turbinas, ladridos, chubascos,
y la voz tan tierna de mi bien amado.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado el sonido y el abecedario,
con él las palabras que pienso y declaro:
madre, amigo, hermano, y luz alumbrando
la ruta del alma del que estoy amando.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la marcha de mis pies cansados;
con ellos anduve ciudades y charcos,
playas y desiertos, montañas y llanos,
y la casa tuya, tu calle y tu patio.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me dio el corazón que agita su marco
cuando miro el fruto del cerebro humano;
cuando miro el bueno tan lejos del malo,
cuando miro el fondo de tus ojos claros.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto.
Así yo distingo dicha de quebranto,
los dos materiales que forman mi canto,
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos, que es mi propio canto.

Gracias a la vida que me ha dado tanto.

Tuesday, April 24, 2007

http://www.youtube.com/watch?v=PBK7bd3UYow


Porque amanhã todos fazemos anos, mesmo os que passam pela data como se não a conhecessem.

Tuesday, April 17, 2007

Estilhaçar o figurino

Ontem fui ao futebol, ver o meu Benfica empatar com o Braga. Na mala levava Ma Vie de Carl Jung. Sou assim, paradoxal, com um gosto muito particular por estilhaçar figurinos. Não aguento passar o dia em pose de intelectual, como não aguento o cheiro a roulotte de fritos mais do que uma vez por época. Tenho horror a rótulos e recuso-me a viver como me mandam. Não sou beta, não sou proletária, não sou intelectual de esquerda e muito menos neo-liberal de fachada democrática. Sou o desespero da minha repartição e ADOOOOOOOOOOOOOOOOOOORO!!!!!!!

Monday, April 16, 2007

Ouço esta maravilha e não posso deixar de pensar na boutade racista e etnocêntrica do editor de um jornal com responsabilidades: «Os brasileiros continuam pendurados na árvore!»
Abençoada árvore, não?
http://www.youtube.com/watch?v=ijCwWsG_IBg

Para começar muito bem esta semana
Caetano canta Carolina

Wednesday, April 11, 2007

I'm Nobody! Who are you?
by Emily Dickinson


I'm Nobody! Who are you?
Are you – Nobody – too?
Then there's a pair of us?
Don't tell! they'd advertise – you know!

How dreary – to be – Somebody!
How public – like a Frog –
To tell one's name – the livelong June –
To an admiring Bog!

Monday, April 09, 2007




Ouvir

Em entrevista a uma rádio espanhola, o escritor Jordi Nadal declarou que ouvir o outro é uma forma de valentia. Concordo plenamente. Pessoal e profissionalmente, sempre procurei levar a cabo esse objectivo virtuoso, embora, como quase toda a gente, nem sempre o consiga. Umas vezes por falta de paciência, outras por puro egoísmo, embora, no geral, seja uma menina tímida, louca por ouvir uma boa história.
Esta característica, ao contrário do que possam pensar os adeptos de tons mais agressivos, nunca me criou problemas no jornalismo. Há pessoas que não suportam jornalistas inquisidores e há até aquelas que se sentem intimidadas por gravadores e/ou máquinas fotográficas. As melhores e mais empolgantes entrevistas da minha vida nasceram dessa disponibilidade para (tentar) encontrar a essência do outro no que diz sobre o seu trabalho. Recordo, entre tantas outras, as conversas, tidas neste espírito com pessoas tão diversas como Ana Benavente, Álvaro Cunhal, Matilde Rosa Araújo, Lídia Jorge, Agustina Bessa-Luís, Al Berto, António Alçada Baptista, João Bénard da Costa, Rogério Samora, Júlio Machado Vaz, São José Lapa, o escritor chileno Francisco Coloane,D.Francisco de Borja, Enfim, pedaços de vida que nunca esquecerei.

Friday, March 30, 2007

E esta é para o Thiago com todo o carinho do mundo

http://www.youtube.com/watch?v=jZSCIDAEFyU

Monday, March 26, 2007

To Septimus, como sempre, este pedaço de um Portugal que amamos, mesmo quando nos desilude
http://www.youtube.com/watch?v=NY6M9nWRVHQ
Desgosto

O que fazer com uma nação que elege Salazar o seu melhor? Talvez deixá-la à sua sorte ou lembrar Manuel Alegre nos tempos em que, por causa de Salazar, Portugal tinha presos políticos, homens e mulheres exilados porque pensavam de maneira diferente da do governo, jovens a morrer em África por causa de um império de papelão, censura intelectual e informativa e milhares de analfabetos só porque o ditador entendia que quem muito lê, treslê.


Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Manuel Alegre
http://www.youtube.com/watch?v=rBuTPweCvQ4

Cranberries, Just my Imagination

Passei o fim-de-semana assim. Nas núvens.

Wednesday, March 21, 2007









Dia Mundial da Poesia



Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

Pablo Neruda

Monday, March 19, 2007

Café Império

Há muitos anos que não ia ao Café Império. Não havia porquê. No sábado, passei, entrei e rejubilei. Um espaço que tinha sofrido a triste sorte da Avenida Almirante Reis foi modernizado de forma a honrar a memória dos seus tempos áureos e também do Cinema do mesmo nome, que foi uma das grandes salas de Lisboa. A cereja em cima do bolo é a pequena loja que vende DVD's e souvenirs do café.

Monday, March 12, 2007



To Septimus porque este excerto faz-me pensar em nós

A THING of beauty is a joy for ever: /
Its loveliness increases; it will never/
Pass into nothingness; but still will keep/
A bower quiet for us, and a sleep/
Full of sweet dreams, and health, and quiet breathing.

John Keats

Wednesday, March 07, 2007

Com Bruce Springsteen abro-vos um pouco do meu Secret Garden

http://www.youtube.com/watch?v=LaE_-yLLWDo

Monday, March 05, 2007

Sting forever

Um pouco melancólica, trago-vos uma das canções de Sting de que mais gosto: Moon over Bourboun Street.


Friday, March 02, 2007

In memoriam
Manuel Galrinho Bento (1948-2007)
Na minha adolescência, a relação com o tempo e com o espaço era substancialmente diferente. O mundo não estava à distância de um click e os dias, que se escoavam lentamente, passavam-se com livros da Enid Blyton, pop em vinil e muito futebol. Na minha adolescência, os rapazes iam à baliza só para imitar os voos loucos do homem que ontem partiu cedo demais.

Monday, February 26, 2007

O ano de Scorsese

Dizem as más-línguas que, na Academia de Hollywood, a justiça pode ser servida à temperatura da vingança. Na madrugada de segunda-feira, na última cerimónia de atribuição dos Óscares, Martin Scorsese experimentou esse sabor agridoce já conhecido por muitos outros grandes nomes antes dele: The Departed – Entre Inimigos (distinguido nas categorias de realizador, filme, argumento adaptado e montagem) decerto não será o seu melhor filme, mas valeu-lhe a consagração académica que lhe fora negada com Taxi Driver; Touro Enraivecido, A Cor do Dinheiro ou Tudo Bons Rapazes.
O mais notável, porém, é que, mesmo partindo deste pressuposto, valeu a pena esperar pelas 5 da manhã portuguesas para ver Francis Ford Coppolla, Steven Spielberg e George Lucas chamar ao palco o seu amigo Marty e entregar o que há muito era devido. Há mais de 30 anos a «velha guarda» dos estúdios olhava desconfiava para estes mesmos homens e chamava-lhes os «quatro jovens barbudos de Hollywood». Hoje representam o melhor de uma geração que, apesar de naturais oscilações, nunca abdicou da qualidade.
Mas se o triunfo de Scorsese foi a nota mais assinalável da 79ª. edição dos Óscares, há que referir ainda as boas «colheitas» de Labirinto de Pan (Fotografia, Caracterização e Direcção Artística), o filme mexicano sobre a Espanha do pós-Guerra Civil que estreia amanhã, 1, em Portugal; Little Miss Sunshine (Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos) nas disciplinas de Actor Secundário e Argumento Original e, sobretudo, de Al Gore. O antigo vice-presidente dos Estados Unidos não só viu o documentário que «protagoniza» - Uma Verdade Inconveniente – ser distinguido com os prémios de Documentário e Canção, como foi um dos «reis» da festa, em inesperada interacção com Leonardo DiCaprio, George Clooney e Ellen Degeneres, a actriz que se estreou notavelmente como «mestre de cerimónias». O derrotado da noite, se assim se pode dizer, foi Clint Eastwood, cujo monumental díptico As Bandeiras dos Nossos Pais/Cartas de Iwo Jima apenas obteve o Óscar de som.
Nas categorias de representação os prémios distribuíram-se sem surpresas: Forest Whitaker (por O Último Rei da Escócia); Helen Mirren (por A Rainha); Jennifer Hudson (actriz secundária em Dreamgirls) e Alan Arkin (actor secundário em Little Miss Sunshine). No ar ficou a desilusão de Peter O’Toole, nomeado (por Vénus) sem ganhar pela oitava vez, mas já distinguido com o Óscar Honorário. O mesmo que, desta feita, distinguiu o compositor italiano Ennio Morricone, autor de mais de 500 bandas sonoras, de que a mais conhecida será a que compôs para O Bom, o Mau e o Vilão, de Sergio Leone. O espectáculo continuará no próximo ano, quando a «noite de todas as estrelas» celebrar a sua 80ª. edição.


At last !!!!!!!!

Wednesday, February 21, 2007



Madonna: l'art c'est elle

Confesso: sou fã desta senhora desde os tempos em que, menina dum liceu lisboeta, comprei o single (em vinil, ai de mim!) de Like a Virgin. Esmoreci entre o final dos anos 80 e o princípio dos 90, que me parecem menos interessantes na carreira de Madonna, mas rendi-me completamente nos últimos tempos. Em primeiro lugar pelo que esta mulher seguríssima, ambiciosa, mas não ríspida, criativa, libertada, significa para a minha geração «encavilatada» entre hippies e betinhos. Em segundo, porque, em termos artísticos, Madonna está cada vez mais interessante. Prova-o, quanto a mim, o maravilhoso DVD do espectáculo Confessions on a dance floor (já à venda em Portugal), em que Madonna (e os que a acompanham) vai mais longe do que nós possamos imaginar no domínio da perfomance, transformando o seu concerto numa autêntica ópera pop. Como ela própria admite num dos extras do DVD: «L'art c'est elle».

Thursday, February 15, 2007

Cartier na Gulbenkian
A partir de hoje há pura beleza à solta na sede da Gulbenkian, em Lisboa. Até dia 29 de Abril, é possível ver Cartier 1899-1949 - O Percurso de um Estilo. Entre muitos e muitos tesouros, é possível ver peças marcadas pela História como a tiara de diamantes usada pela Rainha Isabel da Bélgica, o alfinete de pantera encomendado em 1949 por Wallis Simpson ou as pulseiras de que Gloria Swanson nunca se separava. Para ver e sonhar.

Monday, February 12, 2007



Madame Bovary sommes nous

Sou peremptória: Pecados Íntimos entra no meu grupo dos cinco melhores filmes de 2006. O realizador já dera boa conta de si em In the Bedroom, estreado em 2001. Agora apresenta um filme notável sobre as vidas de todas nós, sobre o modo como os sonhos desfeitos alimentam um longo lastro de amargura. E, antes de mais, sobre o modo como cada um lida com tal peso. Uns, os mais acomodados, transformam-se em seres irremediavelmente frustrados; outros, os mais rebeldes (como Sarah brilhantemente interpretada por Kate Winslet) deixam-se guiar pela fantasia e transformam-se em pequenas Bovarys. Com todos os riscos que tal escolha implica. As personagens são densas, o desenvolvimento da narrativa é irrepreensível, a obra permite um sem número de leituras. Fascinante!

Tuesday, February 06, 2007

Hoje acordei assim

http://www.youtube.com/watch?v=ltNkfRFpeHc
Este concerto para clarinete de Mozart transmite-me sempre alegria e serenidade. Espero que gostem tanto como eu.

Monday, February 05, 2007

Ainda outro poema de W.H.Auden
(que faria 100 anos no próximo dia 21)

Lullaby

Lay your sleeping head, my love, /
Human on my faithless arm;/
Time and fevers burn away/
Individual beauty from/
Thoughtful children, and the grave/
Proves the child ephemeral:/
But in my arms till break of day/
Let the living creature lie, /
Mortal, guility, but to me/
The entirely beautiful.

Soul and body have no bounds:/
To lovers as they lie upon/
Her tolerant enchanted slope/
In their ordinary swoon,/
Grave the vision Venus sends/
Of supernatural sympathy,/
Universal love and hope;/
While abstract insight wakes/
Among the glaciers and the rocks/
The hermit's sensual ecstasy/

Certainty, fidelity/
On the stroke of midnight pass/
Like vibrations of a bell,/
And fashionable madmen raise/
Their pedantic boring cry:/
Every farthing of the cost,/
All the dreaded cards foretell,/
Shall be paid, but from this night/
Not a whisper, not a thought,/
Not a kiss nor look be lost./

Beauty, midnight, vision dies:/
Let the winds of dawn that blow/
Softly round your dreaming head/
Such a day of sweetness show/
Eye and knocking heart may bless,/
Find your mortal world enough;/
Noons of dryness see you fed/
By the involuntary powers,/
Nights of insult let you pass/
Watched by every human love.

Friday, February 02, 2007

Funeral Blues

Stop all the clocks, cut off the telephone,/
Prevent the dog from barking with a juicy bone,/
Silence the pianos and with muffled drum/
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead/
Scribbling on the sky the message He Is Dead,/
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,/
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,/
My working week and my Sunday rest,/
My noon, my midnight, my talk, my song;/
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;/
Pack up the moon and dismantle the sun;/
Pour away the ocean and sweep up the wood./
For nothing now can ever come to any good.

W.H. Auden

Monday, January 29, 2007





É oficial: acaba de nascer o meu novo projecto. É um blog, uma espécie de revista online, sobre actualidade literária europeia. Gostava que o visitassem, comentassem, criticassem, acrescentassem. Tenho muitos sonhos para ele. Responde pelo nome de http://europadoslivros.blogspot.com
Dias da rádio

Hoje o Radioclube Português enterrou definitivamente a herança da Rádio Nostalgia. E ainda bem. A excelente emissão informativa da manhã, coordenada por João Adelino Faria, parece demonstrar que o canal dirigido por Luís Osório decidiu fazer juz à tradição que o seu nome encerra.

Thursday, January 25, 2007

Para um novo leitor deste blog. Espero que volte muitas vezes. Xutos forever!

http://www.youtube.com/watch?v=XGYm4Ixo6V4

Tuesday, January 23, 2007

A comédia segundo Martin Amis
«La comédie est tellement menacée aujourd'hui par le politiquement correct. Une blague c'est toujours l'affirmation d'une supériorité. En général, quelqu'un est humilié. Nous faisons tous de plus en plus souvent l'expérience de visages qui se crispent soudainement, et sur lesquels toute trace d'humour a disparu lorsque tombe le hugement politique. C'est beaucoup plus fréquent qu'il y a trente ou quarante ans.»
Martin Amis em entrevista à revista Les Inrockuptibles, edição de 16 de Janeiro

Thursday, January 18, 2007




Homenagem a Eli Wallach
Foi sem grandes expectativas que parti para o filme O Amor não Tira Férias, de Nancy Meyers. Queria passar um serão agradável como alternativa a uma daquelas reuniões de condomínio em que dois reformados se degladiam furiosamente por causa de uma lâmpada fundida. Mas eis que a comédia romântica made in Hollywood superou as expectativas. Não que alguma vez passasse do registo ligeirinho (embora nunca fosse estupidificante), não que o final seja surpreendente (como não era no divertido Alguém Tem que Ceder, o anterior filme da realizadora com Diane Keaton e Jack Nicholson), mas porque tem uma componente cinéfila que muito me agradou. E essa componente tem a ver com a homenagem feita ao actor Eli Wallach, na altura da rodagem com 90 anos. Meyers «transforma-o» num velho argumentista que, nos seus tempos áureos, escrevera algumas das grandes lines do cinema clássico e privara com algumas das suas maiores «estrelas». Mas o que, na verdade, ali se faz é a homenagem a um grande actor cujo currículum inclui filmes míticos como Os Inadaptados; O Bom, o Mau e o Vilão; Os Sete Magníficos ou O Padrinho.


Monday, January 15, 2007

Hoje acordei assim : )
>http://www.youtube.com/watch?v=g8Z1MpcyqQ""

Friday, January 12, 2007



Era duro mas romântico, viril mas sensível, misterioso, sensual, decente, justo, empenhado em todas as causas que considerou importantes, mas avesso a poses panfletárias. Humphrey Bogart morreu a 14 de Janeiro de 1957. Passaram-se 50 anos mas teremos sempre Casablanca.

Thursday, January 11, 2007

Boa notícia para os cinéfilos: A Livraria do Cinema King, em Lisboa, reabriu, com muitos artigos apetecíveis para os cinéfilos, desde posters a DVD's de importação.
O Vigilante, Sarah Walters

Editado pela Bizâncio, O Vigilante da britânica Sarah Walters é um longo e belo romance. Comecei por o comprar porque o ambiente me interessava (Londres durante o blitz, na IIª Guerra Mundial), mas acabei por me render à grande capacidade de escrita evidenciada pela autora. As cenas em que descreve um bombardeamento e o resgate das vítimas, a partir do ponto de vista das equipas de salvamento, não estão ao alcance de qualquer um. Recomendo.

Tuesday, January 09, 2007


The Man who Shot Liberty Valance, John Ford

«Nos filmes de Ford é sempre preciso voltar mais atrás. E é exactamente que volte atrás («come back, pilgrim, come back») o que Wayne pede a Stewart, quando lhe quer acabar com os remorsos. Há uma imensa cortina de fumo e depois, quando vemos segunda vez o duelo, a câmara já se subjectiva entre Strode e Wayne e só se objectiva na posição frontal (...). E, como mais tarde terá comentado Lee Marvin: «It was the only time John Wayne ever shot anybody in the back of the head». Essa figura única na obra de Ford (um flash-back dentro dum flash-back, uma mesma sequência na multiplicidade dos pontos de vista) é muito mais do que a chave do filme, ou a revelação de quem matou Liberty Valance. É o apelo, pela primeira vez tornando explícito, a que olhemos sempre pela segunda vez, já que há sempre um fundo sob um fundo e outro ainda sob esse. Se há cineasta em que o campo é mais profundo, esse se chamou John Ford.»

João Bénard da Costa

Thursday, January 04, 2007



There are no second acts in american lives.

Francis Scott Fitzgerald


Preparo-me para iniciar o segundo acto da minha vida. Quero que seja deslumbrante. Não farei fretes. Não viverei no passado. Não me adiarei para o futuro. Não aceitarei migalhas. Não darei migalhas. Não me iludirei. Serei mais exigente comigo e com os outros. Amarei melhor, amar-me-ei mais, dedicar-me-ei ao instante que passa, farei do aqui e agora um bom lugar, rumarei a novos destinos, lutarei pelo que me é caro, não terei medo. Porque já não terei tempo para me arrepender.

Tuesday, January 02, 2007

Artur e os minimeus

Éramos dois adultos, sem crianças, no cinema, mas nem por isso a sessão foi desprovida de encantamento. Embora não seja propriamente uma entusiasta da obra do francês Luc Besson na sua fase pós-O Quinto Elemento (1997), rendi-me à magia de Artur e os Minimeus, a sua primeira incursão no mundo da animação. Digo incursão e, imediatamente, sinto que a palavra carrega uma marca de dilentatismo que não faz justiça ao empenho e amor que o realizador, ao longo de mais de cinco anos, dedicou ao projecto.
Tudo começou quando Patrice Garcia, colaborador de Luc Besson, lhe mostrou o desenho de uma pequena personagem que deveria servir de suporte a uma série de televisão. O realizador contra-argumentou que este media não lhe interessava, mas não deixou cair o projecto de Garcia: à nova criatura chamou Artur e destinou-lhe uma vida, primeiro em livro (assina ele próprio o livro Artur e os Minimeus, editado em Portugal pela Asa), e, depois, no grande écran. Mas não bastou decidir: da ideia à sua concretização distou um percurso feito de dificuldades, como o próprio realizador admitiu durante a conferência de imprensa que fez em Lisboa, para apresentação do filme: «Começámos a trabalhar há cinco anos e, na altura, os distribuidores não estavam muito receptivos à animação digital. Agora, quase só se fazem filmes animados digitais. Por isso, estivemos três anos a filmar com dinheiro nosso e sem uma única imagem para apresentarmos aos financiados. Felizmente, os licenciadores das personagens para o merchandising acreditaram em nós e os acordos que fizemos com ele deram-nos mais espaço de manobra».
O resultado de tanto esforço (e dos 65 milhões de euros que custou) é um filme brilhante que colocamos sem hesitações na estante dos clássicos infanto-juvenis. Num mundo sobrecarregado de imagens, Besson consegue criar um universo próprio que se distingue com segurança de grandes referências do género como a Disney ou a Dreamworks (criadora de Shrek, por exemplo) e colocá-lo ao serviço da história de um rapazinho que se propõe resolver as dificuldades financeiras da família através de uma perigosa caça ao tesouro. Inicia-a no pequeno jardim da sua casa, onde, segundo os mapas deixados por um avô misteriosamente desaparecido, estaria enterrado um saco de rubis. Mas, antes que chegue ao providencial achado, Arthur ver-se-á confrontado com a fabulosa tribo dos minimeus. O que se segue tem o ritmo de uma aventura de Indiana Jones, em que as interpretações de Freddie Highmore (o pequeno actor revelado em Finding Neverland e Charlie e a Fábrica de Chocolate), Mia Farrow (a avó) e as vozes, na versão original, de Madonna, Robert De Niro, David Bowie e Snoop Dog são uma mais valia a considerar. Artur e os Minimeus é, pois, uma «iguaria» que, por várias razões, vale a pena saborear até ao último segundo do genérico final.

Friday, December 29, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=pwCte8jp-GI

Desejo-vos um Feliz ano novo com muitos encontros inesquecíveis!

Thursday, December 28, 2006














The Dreamers, de Bernardo Bertollucci

Não é o melhor filme do realizador de O Último Tango em Paris, 1900 ou O Último Imperador, mas é irresistível para os cinéfilos. Basta dizer que a acção começa quando, em pleno Maio de 68, a demissão política do histórico presidente da Cinemateca de Paris, Henri Langlois, gera uma enorme manifestação. A história que se segue é a de uma belíssima (e terrível) história de amor a três que, à sua maneira, homenageia Jules e Jim, de François Truffaut. Imperfeito, poético, nostálgico, apaixonante, um filme para guardar na estante dos afectos. DVD à venda.

Tuesday, December 26, 2006

SMS's bonitos demais para desaparecerem

J: Sabes qual foi a melhor coisa deste Natal? Na manhã de 25, acordei com um pássaro a cantar na minha janela.

T: Sim, eu sei. Fui eu que o mandei.
O Natal foi triste, mas agora virá a vida com a sua imensa capacidade de regeneração. Feliz ano novo!

Friday, December 22, 2006

Imagens do Natal 2)

http://www.youtube.com/watch?v=QBWjK-ae3Ns

Intitula-se (em português) Do Céu Caiu uma Estrela, foi realizado por Frank Capra e sem este filme não existe verdadadeiramente Natal. Revejo-o, ano após ano, e choro sempre.

Wednesday, December 20, 2006

Imagens do Natal
http://www.youtube.com/watch?v=qnsk5SW789M

Monday, December 18, 2006

Poesia de António Ferra

Escreve como pinta: com uma inteligência feita de sensibilidade aos mais infímos pormenores.Discreto, atento, senhor de uma imaginação exuberante, chama-se António Ferra e é hoje um dos meus melhores amigos. Um privilégio, digo-vos. Senão leiam o excerto deste poema, parte do seu novo livro, A Palavra Passe (edição Campo das Letras):

Perdi a password

E se eu não me lembrasse do código do multibanco/
e ali ficasse de pé em frente da máquina,/
de mãos trémulas, a introduzir o cartão/
até três vezes, três vezes remexendo os bolsos da cabeça/
cheia de tanto material provavelmente inútil,/
mas que eu teimo em guardar, não vá o diabo tecê-las,/
no medo de deitar fora uma recordação de infância/
misturada com o número do bilhete de identidade,/
no medo de perder o registo daquele beijo interminável/
a preencher-me o corpo ainda sensível à memória,/
no medo de encontrar entre ficheiros e afectos,/
algum trauma que ninguém removeu ainda,/
porque se fez de ácido e sabonete de glicerina e pó-de-talco/
ausonia? (uma senhora dos anos vinte a enfeitiçar-me a líbido/
recalcada de culpa, temores e incertezas.)

Wednesday, December 13, 2006

Para o Thiago, que me fez redescobrir o espírito de Natal e que, hoje, teve umas «asas» no sapatinho.

Londres, 7-11 Dezembro de 2006






Foi o cenário idealizado dos meus sonhos de menina. Continua a ser um local em que penso quando preciso de me sentir bem.

Wednesday, December 06, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=RczpfDE2iyM

A partir de amanhã, os meus greetings virão de London town.

Monday, December 04, 2006

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados
que eu ando a limitar a tua
altura e bebo a água e sorvo o
ar que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se
transfigura e toca o seu
próprio elemento num corpo
que já não é seu
num rio que desapareceu onde
um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

Wednesday, November 29, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=iFHrbx8AiQ8

In memoriam Robert Altman (1925-2006)
«They sell glove shoes, I make gloves»

In memoriam Robert Altman


Estive a recordar Gosford Park, de Robert Altman.

Nos espectáculos muito encenados, os bastidores são quase sempre mais eloquentes do que o palco. Na cerimónia de atribuição dos Oscars de 2002, o momento alto da noite foi oportunamente vislumbrado e captado pelo operador de câmara na plateia de notáveis: enquanto Ron Howard se preparava para receber o Oscar de melhor realizador, David Lynch e Robert Altman, nomeados vencidos, cumprimentavam-se com um abraço que inesperadamente substituiu os piedosos sorrisos do costume. Mais do que uma efusiva saudação, este gesto simboliza toda a História alternativa destes prémios que já vão na 74a edição - a História que não se traduz pela listagem dos vencedores, mas pela outra, a dos vencidos. Tamanha solidariedade entre estes dois grandes nomes do cinema sela os destinos de ambos como senhores de percursos ímpares e solitários que a indústria não consegue assimilar (a revista francesa Positif, de Março de 2002, compara Altman a Resnais, Imamura e...Manoel de Oliveira).
Gosford Park, a obra de Altman que o júri da Academia nomeou para seis Oscars (incluindo melhor filme e melhor realizador, vencendo apenas o de argumento original) devolve-nos o vigor dos melhores filmes do cineasta: Nashville (1975); A Mariage (1978); Streamers (1983);ThePlayer(l992) e ShortCuts(ï993).
Colocado perante o desafio de abordar um género novo na sua vasta fílmografía, Altman (já com 76 anos) optou por filmar uma espécie de cruzamento entre o policial à inglesa, a sátira de costumes e o filme da época. Conhecedor da História (que diz usar como a âncora que o impede de disparar em todas as direcções), fez-se transportar para a Inglaterra do princípio da década de 30, quando Hitler ainda não chegara ao poder na Alemanha, mas grossas nuvens já se formavam sobre toda uma sociedade e seus rituais. Com um surdo desespero que os aproxima da aristocracia francesa em vésperas da Revolução, Lord e Lady McGordle convidam os seus pares para uma caçada à perdiz, a ter lugar em Gosford Park.
No banco de trás dos seus Rolls Royce, os vários convivas, acompanhados por motoristas e criados de quarto, respondem à chamada, não porque os mova o irresistível apelo da caça, mas porque procuram, nesse convívio, a resolução para múltiplos problemas financeiros, decerto agravados pelos efeitos da Grande Depressão, desencadeada em 1929. Desprovidos de meios necessários ao sustento de tamanha ostentação, acossados pelos novos mundos prometidos pelo comunismo, à esquerda, e pelo fascismo, à direita, representam uma farsa em que a etiqueta substituiu a vida. Como numa peça de Noel Coward ou numa novela de Evelyn Waugh, autor de Brideshead Revisited e de A Handful ofDust, obras que, tal como Gosford Park, tomam por tema a inexorável decadência da aristocracia tradicional inglesa nos tempos em que o Duque de Windsor era a sua coqueluche.
Este fim-de-semana não viria a ser igual a tantos outros. Após desavenças com vários dos seus convidados e até a demonstração, perante todos, da ligação que o une à mais bonita das criadas, o dono da casa será assassinado.Com tanta gente reunida na mansão (incluindo dois parvenus de Hollywood), o filme parece lançado para um thriller à moda de Agatha Christie. No entanto, o desajeitado Inspector não ombreia com o faro de Hercule Poirot e os principais pontos de interesse do filme não residem na solução da intriga. Sem a consagração dos Oscars, este filme ficará para a História como um dos grandes trabalhos de Altman. Um cineasta para quem o Rolls Royce, filmado no princípio de Gosford Park, pode bem ser uma metáfora da sua obra - filmes sofisticados, concebidos como peças únicas, sem nenhuma concessão à indústria.

Tuesday, November 28, 2006

Poemas que unem almas
1)


Hope


Hope is the thing with feathers
That perches in the soul,
And sings the tune--without the words,
And never stops at all,

And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.

I've heard it in the chillest land,
And on the strangest sea;
Yet, never, in extremity,
It asked a crumb of me.

Emily Dickinson

Monday, November 27, 2006



007 - Casino Royale

Atrevo-me a dizer que já é um clássico. Quando a saga 007 era uma desinteressante e confusa sucessão de gadgets e sequências improváveis (salva apenas pela garbosa presença de Pierce Brosnan), Martin Campbell redescobriu o prazer de uma boa história de suspense e romance. A tais méritos não será estranha a participação de Paul Higgins, o argumentista de One Million Dollar Baby e realizador de Colisão.

Friday, November 24, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=5pjEcI__cJ4


Prendinha

Rosemary Clooney foi, nos anos 50, uma das cantoras mais populares da música norte-americana. Vemo-la aqui num divertido «Mambo Italiano». Para além dos seus méritos musicais, a senhora teve um sobrinho que hoje derrete mais corações do que o Sol no Verão. Quem adivinha?

Thursday, November 23, 2006

Imagens do Inverno passado

Agora que os dias ficam mais curtos e que apetece uma camisola quente recordo algumas fotografias que fiz no Inverno passado. Porque acredito que todas as estações do ano têm a sua beleza.


Linha da Beira Alta, Portugal



Cidade da Guarda



Pista de gelo junto ao Museu de História Natural, em Londres



De comboio rumo à Guarda

A tarde em que nevou em Lisboa, 29/01/06

Wednesday, November 22, 2006

...E, no entanto, não posso deixar de amar a cidade em que cresci



«Nas nossas ruas, ao anoitecer,/
Há tal soturnidade, há tal melancolia,/
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia/
Despertam um desejo absurdo de sofrer»

Cesário Verde, «O Sentimento dum Ocidental»



«Que raiva ter esquecido o paiozinho! Enfim, acabou-se. Ao
menos assentámos a teoria definitiva da existência. Com efeito,
não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa
alguma.
Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:
— Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro,
nem para o poder.
A lanterna vermelha do americano, ao longe, no escuro, parara.
E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
— Ainda o apanhamos!
— Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então, para apanhar o
americano, os dois amigos romperam a correr desesperadamente
pela Rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do
luar que subia.»

Eça de Queirós, Os Maias

Monday, November 20, 2006

Este fim-de-semana, mais recatado, estive a ouvir poemas do inglês John Donne (1752-1631)ditos por Paul Hillier. Que as dificuldades do inglês de quinhentos não vos afaste de tanta beleza.

The Apparition

WHEN by thy scorn, O murd'ress, I am dead,
And that thou thinkst thee free
From all solicitation from me,
Then shall my ghost come to thy bed,
And thee, feign'd vestal, in worse arms shall see :
Then thy sick taper will begin to wink,
And he, whose thou art then, being tired before,
Will, if thou stir, or pinch to wake him, think
Thou call'st for more,
And, in false sleep, will from thee shrink :
And then, poor aspen wretch, neglected thou
Bathed in a cold quicksilver sweat wilt lie,
A verier ghost than I.
What I will say, I will not tell thee now,
Lest that preserve thee ; and since my love is spent,
I'd rather thou shouldst painfully repent,
Than by my threatenings rest still innocent.

John Donne

Friday, November 17, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=zfGQuYtDei0

A habitual prendinha de fim-de-semana

Ainda os anos 80, sob a forma de «24 Hour Party People» dos Happy Mondays.

Thursday, November 16, 2006


Na morte de Marilyn

Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu demasiados barbitúricos
uma noite ao deitar-se quando se sentiu sózinha
ou suspeitou que tinha errado a vida
ela de quem a vida a bem dizer não era digna
e que exibia vida mesmo quando a suprimia
Não havia no mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um dia dispôs do direito
ao uso e ao abuso de ser bela
e decidiu de vez não mais o ser
nem doravante ser sequer mulher
O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
e toda a confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo mar intensamente condensar
Tomou todos os tubos que tinha e não tinha
e disse à governanta não me acorde amanhã
estou cansada e necessito de dormir
estou cansada e é preciso eu descansar
Nunca ninguém foi tão amado como ela
nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão
Era mulher era a mulher mais bela
mas não há coisa alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito
Perto de marilyn havia aqueles comprimidos
seriam solução sentiu na mão a mãe
estava tão sózinha que pensou que a não amavam
que todos afinal a utilizavam
que viam por trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja bela o adjectivo a empregar
que em vez de ver um todo se decida dissecar
analisar partir multiplicar em partes
Toda a mulher que era se sentia toda sózinha
julgou que a não amavam todo o tempo como que parou
quis ser até ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou

Ruy Belo

Natalie Wood fotografada por Sam Shaw


Esplendor na Relva

Eu sei que deanie loomis não existe/
mas entre as mais essa mulher caminha/
e a sua evolução segue uma linha/
que à imaginação pura resiste

A vida passa e em passar consiste/
e embora eu não tenha a que tinha/
ao começar há pouco esta minha/
evocação de deanie quem desiste

na flor que dentro em breve há-de murchar?/
(e aquela que no auge a não olhar/
que saiba que passou e que jamais

lhe será dado ver o que ela era)/
Mas em deanie prossegue a primavera/
e vejo que caminha entre as mais

Ruy Belo

Monday, November 13, 2006



Departed, Martin Scorsese

A mão seguríssima de Martin Scorsese não teme a liberdade dos actores: Jack Nicholson, Matt Damon, Leonardo di Caprio, Martin Sheen, entre outros, dão show para nosso deleite. Brilhante, mesmo para quem não gosta de filmes de gangsters!

Thursday, November 09, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=OEqAJGD582A

Prendinha de fim-de-semana aos gentis leitores

Desta vez, não é uma música. É um velho comercial da Cacharel que muito me fez sonhar durante a adolescência. Realizou-o a grande fotógrafa Sarah Moon. Enjoy it!


Prometes que me dizes este poema quando formos velhinhos?


WHEN YOU ARE OLD

WHEN you are old and grey and full of sleep,
And nodding by the fire, take down this book,
And slowly read, and dream of the soft look
Your eyes had once, and of their shadows deep;

How many loved your moments of glad grace,
And loved your beauty with love false or true,
But one man loved the pilgrim Soul in you,
And loved the sorrows of your changing face;

And bending down beside the glowing bars,
Murmur, a little sadly, how Love fled
And paced upon the mountains overhead
And hid his face amid a crowd of stars.

William Butler Yeats

Wednesday, November 08, 2006

Aniversários

A 8 de Novembro de 1988 - faz hoje 18 anos, que passaram a correr - entrei, timidamente, na redacção do Diário de Lisboa para mostrar um punhado de textos sobre cinema. Fiquei, apaixonei-me pelo jornalismo e por aquele jornal, que foi o melhor e o mais fascinante de todos os títulos por onde passei. Hoje, a Inês, que é o que tenho de mais parecido com uma irmã, faz 30 anos de vida. Não receies a passagem dos anos. É ela que nos proporciona sensações maravilhosas como a de ontem à noite, quando nos comovemos durante o concerto do grande Chico Buarque, no Coliseu. Tanto mar!

Tuesday, November 07, 2006



Vila Viçosa

«Não sei porque Florbela cantou tão pouco a sua terra, que é tão inspiradora e cheia de prodígios. O coração turvado não tem folga para as memórias doces, nem da paisagem, nem dos hábitos. Mais ardentes fantasmas não há em Portugal como nesse lugar. O Condestável, o Duque D. Jaime, as suas loucuras e bravuras, a par umas das outras, que não se destriçam completamente. As freiras nas suas hortas e as cegonhas nos seus ninhos do choupo do Reguengo; e uma candura de ambições em que a vida se esgota e passa. No entanto, não é difícil supor Florbela naquela vila cortada de ruas estreitas, onde o luar caía em flecha; naqueles montados em São Bento onde se ergue o portão principal da tapada real.»

Agustina Bessa-Luís, Florbela Espanca

Friday, October 27, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=p790vmF1Ix8

Férias! Uma semaninha fora da repartição e dos seus nauseabundos aromas! Deixo-vos esta música que me diz tanto e um grande beijo.

Thursday, October 26, 2006

José Eduardo Agualusa

Ainda numa de lusofonia (o que raramente acontece, admito), gostaria de vos recomendar o último livro do angolano, José Eduardo Agualusa, Passageiros em Trânsito. São contos breves, muito bem escritos (como se impõe sobretudo num género breve, que desfiam as pequenas grandes histórias de anónimos cidadãos do mundo que se cruzam apenas por um instante.

Wednesday, October 25, 2006

João Ubaldo Ribeiro

Nostálgica de um pouco de sol, hoje fiz-me acompanhar do livro do escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, Miséria e Grandeza do Amor de Benedita. E se não encontrei o dito sol, deparei, porém, com o prazer da língua portuguesa cozinhada como uma iguaria rara. Qus isto de se achar que o Português do Brasil é coisa de somenos, é pura ignorância da literatura brasileira contemporânea. Recomendo vivamente!

Monday, October 23, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=ddquVvGxTS8

Foi você que me chamou pop girl...?
Uma Verdade Inconveniente

Não é um filme cómodo, mas é infinitamente pedagógico. Uma Verdade Inconveniente (em exibição no Nimas, em Lisboa) mostra como, por ignorância e leviandade, estamos a arruinar a nossa qualidade de vida e a comprometer o futuro das gerações seguintes. Al Gore, antigo vice-presidente dos Estados Unidos e concorrente derrotado de Bush em 2000, chama a atenção para a «ameaça terrorista» inerente ao aquecimento global: verões cada cada vez mais violentos; fenómenos meteorológicos mais extremos como o furacão Katrina; centenas de animais mortos devido a alterações drásticas no seu habitat. Não acreditem quando vos disserem que é uma fase e que isto depois passa.

Friday, October 20, 2006

Maria Antonieta, parte II

As expectativas eram tantas que fui ver o filme ontem mesmo, na estreia. Mas não gostei particularmente. Beleza plástica à parte (o que não é favor nenhum quando é permitido filmar em Versailles e no Trianon), Sofia Coppola não teve o engenho de fazer mais do que uma reconstituição linear da vida da trágica Rainha até à eclosão da Revolução Francesa, seguindo a par e passo a biografia feita pela historiadora Antonia Fraser. Não teve a ousadia de defender até ao fim aquela que parece ser a tese do filme: a de que Maria Antonieta foi a primeira estrela pop de sempre, pelo grau de exposição a que a sua breve existência esteve sujeita. Sofia sugere-o com a excelente banda sonora (em vez de música barroca, temos Siouxsie & The Banshees, the Strokes, New Order, Air e The Cure) mas a subversão do género histórico acaba nesse ponto. Intui-se que a cineasta concebe Maria Antonieta como um ser algures entre Jackie Kennedy e Kate Moss, mas faltou-lhe o golpe de asa para sustentar esse paralelismo durante todo o filme. E é pena.

Thursday, October 19, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=_s1YngtN3y4

Marie Antoinette (a propósito da estreia do filme de Sofia Coppola, hoje, dia 19, em Lisboa

«Só é ferido pelo destino quem não se soube dominar; em toda a derrota há um sentido e uma falta», escreve Stefan Zweig, na frase com que se propõe resumir a trágica existência da Rainha que a França fez guilhotinar a 16 de Outubro de 1793. Filha de um animal político como foi a Imperatriz Maria Teresa de Áustria, a jovem arquiduquesa sempre enjeitou os ensinamentos de uma instrução séria. Casada – como todos os príncipes do seu tempo – para responder aos interesses diplomáticos da dinastia em que nascera, foi com desgosto que se sujeitou às lições de um preceptor francês que procurava familiarizá-la com a História, a Literatura, os usos e costumes do país onde seria chamada a reinar. Igual destino teriam os insistentes conselhos da mãe, ainda em Viena e depois enviados por carta para Paris, quase todos relativos a questões de política externa e, sobretudo, ao que os súbditos esperam do comportamento duma Rainha de França. Volátil, Maria Antonieta desliza de divertimento para divertimento. Perspicazes como só as crianças conseguem ser, os filhos haveriam de lhe conceder o título de «Mousseline, la Sérieuse».
Neste frenesim de prazeres, Maria Antonieta esquecia talvez o desgosto de ver destroçados os seus sonhos de menina. Indolente e taciturno, Luís XVI estava longe de corresponder ao que habitualmente se espera de um príncipe encantado.
As nuvens começaram a avolumar-se muito antes de irromper a borrasca. A partir de 1785, o povo de Paris começa a murmurar gravemente sobre o comportamento da Rainha. Chamam-lhe devassa, tirânica, excessivamente despesista e sem qualquer contemplação para com as reais necessidade da França. Ocasionalmente recordam-lhe que é estrangeira, chamando-lhe «a austríaca». Finalmente, resumem todas essas acusações no título que soará já como uma ameaça: «Madame Deficit».
A 14 de Julho de 1789, a tomada da prisão da Bastilha, torna-se um símbolo da irreversibilidade do processo revolucionário. E é então que, ao sentir-se ameaçada, o carácter de Maria Antonieta conhece uma transformação, unanimemente reconhecida por todos os historiadores. Mousseline, la Sérieuse cede lugar a uma heroína trágica, que responde à gravidade dos acontecimentos com uma determinação que antes só colocara na escolha das toilettes. Deposta, presa no Templo, com toda a família, Maria Antonieta será sucessivamente confrontada com a execução do marido (a 21 de Janeiro de 1793), a separação dos filhos e um processo vergonhoso em que, para além de ser acusada de alta traição e conluio com as potências estrangeiras, a fazem ouvir que teria iniciado o Delfim, seu filho, em jogos sexuais. Indignada, a Rainha apela às outras mulheres presentes no tribunal, algumas das quais não ocultam a emoção. Apesar da defesa vigorosa que soube apresentar, a sentença de morte é conhecida às 4 da manhã de 16 de Outubro de 1793 e posta em prática horas depois, nesse mesmo dia. Prematuramente encanecida – só conta 38 anos incompletos – enfrenta a morte com uma serenidade que se tornou lendária. Recusa o serviço espiritual do sacerdote constitucional com que a nova ordem revolucionária substituira os padres católicos e emudece a turba que se juntara para assistir à execução. Estava consumado o turbilhão que fora breve a sua existência. Sofia Coppola considerou-a tão exemplarmente contemporânea que não hesitou em fazê-la rodopiar ao som dos New Order.

Tuesday, October 17, 2006



Penélope posta em desassossego

Já vos falei de Son de Mar, de Manuel Vicent, que trouxe de Madrid. Terminada a leitura, digo-vos que é um dos melhores livros que li nos últimos (largos) meses. Muito bem escrito e estruturado, conta a belíssima história de paixão entre um professor de Literatura Clássica, Ulisses de seu nome,e sua mulher Martina. Ela ama-o até à loucura, ele só sabe que a ama na mesmíssima proporção depois de se perder dela e da sua antiga vida, mundo fora. Regressa ao cabo de dez anos, em que, tendo-o julgado morto, Martina e a aldeia lhe fizeram o funeral, adaptando-se aos novos tempos. O reencontro estará à altura da grandeza das personagens.
Só uma dúvida me aflora o espírito: e se, um dia destes, um escritor (ou uma escritora) criar uma Ulisses, uma mulher que necessite de se perder no mundo para saber que o homem da sua vida fora o que deixara em terra? Cairiam os alicerces da civilização ocidental?

Friday, October 13, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=WwxdydRpjFw

A teu pedido, «red rose of all my days»

Thursday, October 12, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=NwoJNYz09zc

Este fim-de-semana será glamorous.

Wednesday, October 11, 2006

Son de Mar

Se outra coisa não proporcionasse, Madrid seria sempre uma cidade de descobertas. Neste momento, ando a deliciar-me com o livro de Manuel Vicent, Son de Mar (edição Santillana, 1999). Dou-vos a provar este «cheirinho»:

«Las terrazas de los cafetines del puerto estaban pobladas de veraneantes con la tripa al aire rodeados de madres que tiraban de los carritos de bebés sobre envases pringados con restos de helados y había llantos de algunos niños, gritos de muchas pandillas adolescentes que lamíam algodones de azúcar y estruendo de tubos de escape de las motos que cruzaban. Algunas ventadas del siroco se llevaban este jolgorio de la tarde de domingo hacia las afueras del barrio marinero y por la pinta de la escollera se perdía en el mar y con el viento se alejaban también las melodías de amor que cantaba el vocalista entre solos de trompeta. Era la mitad de agosto. El verano non havía entrado aún en melancolía e aunque ése había sido un día aciago en que havía finalizado una historia de pasión, la gente bailaba, escupía pipas de girasol, tomaba cerveza, sudaba y era feliz sin importarle nada que no fuera vivir ese instante (...)»

Wednesday, October 04, 2006

http://www.youtube.com/watch?v=5gNkp_RtL_4

Este fim-de-semana será em Madrid

Monday, October 02, 2006



Para o «Asinhas»

Com um brilhozinho nos olhos

Com um brilhozinho nos olhos
corremos os estores
pusemos a rádio no "on"
acendemos a já costumeira
velinha de igreja
pusemos no "off" o telefone
e olha, não dá p'ra contar
mas sei que tu sabes
daquilo que sabes que eu sei
e com um brilhozinho nos olhos
ficamos parados
depois do que não te contei

Com um brilhozinho nos olhos
dissemos, sei lá
o que nos passou pela tola [o que nos passou pelo goto]
do estilo és o "number one"
dou-te vinte valores
és um treze no totobola [és o seis do meu totoloto]
e às duas por três
bebemos um copo
fizemos o quatro e pintámos o sete
e com um brilhozinho nos olhos
ficamos imóveis
a dar uma de "tête a tête"

Sérgio Godinho