Wednesday, November 22, 2006

...E, no entanto, não posso deixar de amar a cidade em que cresci



«Nas nossas ruas, ao anoitecer,/
Há tal soturnidade, há tal melancolia,/
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia/
Despertam um desejo absurdo de sofrer»

Cesário Verde, «O Sentimento dum Ocidental»



«Que raiva ter esquecido o paiozinho! Enfim, acabou-se. Ao
menos assentámos a teoria definitiva da existência. Com efeito,
não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa
alguma.
Ega, ao lado, ajuntava, ofegante, atirando as pernas magras:
— Nem para o amor, nem para a glória, nem para o dinheiro,
nem para o poder.
A lanterna vermelha do americano, ao longe, no escuro, parara.
E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
— Ainda o apanhamos!
— Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então, para apanhar o
americano, os dois amigos romperam a correr desesperadamente
pela Rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do
luar que subia.»

Eça de Queirós, Os Maias

2 comments:

said...

É tão rara aquela sensação como a que tive quando há anos li os Maias...querer ler mais, e no entanto, nao querer que o livro acabe.
Quase como Lisboa, querer vê-la e pensar que poderia nunca acabar!

Anonymous said...

E passear no eléctrico 15, como Fernando Pessoa.