Friday, January 27, 2006

Um Lugar ao Sol, de George Stevens


O carteiro não toca sempre duas vezes
(a propósito de Matchpoint, de Woody Allen)
Ainda não considero Matchpoint o Woody Allen da década, até porque esta ainda está a meio e espero sempre muito do homem que realizou Manhattan ou A Rosa Púrpura do Cairo. Mas gostei. Para além de dar a ver o loft com vista sobre Tamisa para onde me mudaria se fosse contemplada com o Euromilhões, Matchpoint é um drama com tese, por sinal bem defendida.
Penso, no entanto, que a narrativa se arrasta de forma pouco menos do que monotóna até aos 15 minutos finais. Uma paixão sexual irresistível e um adultério que, a determinado momento, se torna demasiado inconveniente para os planos dos intervenientes nesta história, podem ser elementos interessantes, mas Woody Allen conta-a à imagem e semelhança de todos os outros romances e filmes sobre o assunto. Os actores estão irrepreensivelmente dirigidos, a realização é segura, Londres extremamente fotogénica, mas a verdade é que, ao contrário do que me acontece na maior parte dos outros filmes do realizador, não me sentia empolgada. Até aos 10 minutos finais quando Allen apresenta a sua tese - por amor aos que ainda não viram, não digo qual é - , encerrando a elipse da narrativa.
Matchpoint, co-produzido pela BBC, é o mais europeu dos filmes de Woody Allen. Mas se, de alguma forma, pairam ali os «fantasmas» de Fanny Ardant e Gérard Dépardieu em A Mulher do Lado, de Truffaut, nem por isso deixei de associar a obra de Allen à que me parece ser a sua genealogia americana, nomeadamente Um Lugar ao Sol, obra-prima de George Stevens protagonizada por um triângulo de ouro formado por Montgmory Clift, Elizabeth Taylor e Shelley Winters, e O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes, de Tay Garnett, com Lana Turner e John Garfield. A diferença está justamente no final que não vos devo contar. Nos anos 40 e 50 , quando aqueles filmes foram realizados, o cinema contava histórias morais. Hoje - sabe- se - o carteiro nem sempre toca duas vezes.

9 comments:

Thiago said...

Muito interessante a tua análise :-) tb frequentas a cinemateca?

said...

A resposta vai por mail!!

maria joão martins said...

Se frequento a Cinemateca? Sou cinemateco-dependente! Beijinhos aos dois, salpicados de neve.

said...

João, em Madrid? Neva também?
Quero ir para Madrid!

maria joão martins said...

Neva imenso em Madrid. Vou lá no próximo fds.

Anonymous said...

Não conheço suficientemente a 7ª arte para poder fazer análises nem comparações, mas gostei muito do Matchpoint. Fiquei algo impressionada com o rumo que a história tomou, mas dei por mim a ficar satisfeita com o desfecho! Afinal tudo é tão relativo...

Thiago said...

Temos então que combinar umas sessões ou uns cafés no 39º ;-) já nos devemos ter cruzado lá imensas vezes!!

um beijinho

maria joão martins said...

Pois, meus queridos,
Já percebi que é um filme que desperta paixões. Ainda bem, precisamos disso.
Thiago, fica sabendo que até lá fiz a minha festa de anos :)Cafézinho para qdo eu voltar de Madrid.

Thiago said...

Combinadíssimo :-)