Monday, January 23, 2006

Domingo de eleições

Na aldeia que é o meu bairro de Lisboa os casais de meia idade endomingam-se para votar. Ele põe uma gravata sob o anorak e ela tira da naftalina o casaco dos Natais. Tomam um café sem falar e vão devagarinho, Estrada de Benfica fora, a gozar um tímido sol de Inverno. Vão até às assembleias de voto na Secundária Pedro de Santarém, compram bolos ou castanhas aos vendedores que montam banca no local sempre nesta ocasião. Por qualquer razão que a História e a Sociologia ainda não apuraram, os Domingos de eleições têm, em Portugal, uma qualquer aura que os torna diferentes de todos os outros. Será por que estas pessoas ainda se lembram do tempo em que os votos não passavam de uma encenação perversa? Ou porque se sentem chamados à responsabilidade de assumir um pequeno poder, que só se volta a repetir quatro anos depois?

4 comments:

António Ferra said...

À porta da escola onde voto, há uma mulher que vende roscas (aquele pão doce, não sei explicar bem, mas não interessa). Em todas as eleições. E fornece dados à boca das urnas. Desta vez, até disse, enquanto ensacava uma rosca: «há menos abstenção do que nas outras (eleições).
Há anos que a conheço ali à porta, vai lá a todas, ritualizou a venda e as eleções.Foi um certo cerimonial que captei também no texto da João.
Beijinho
António

Patrícia Rocha said...

Prefiro outras bocas e abomino qq tipo de urnas, hehehe

maria joão martins said...

Olá aos dois.
Miss Engajada, já q. não cumpre o dever ´cívico, vá espreitar o folhetim a literatoemalpercatas.blogspot.com.
Bem-vinda de volta!

Thiago said...

Estes domingos de eleições têm de facto algo de surpreendente, as pessoas mudam...e evergam um ar de solenidade...parece que vão para uma cerimónia solene...e pensando melhor, até vão...