Thursday, January 05, 2006

fotos de MJM




«Raízes», pátrias e outros mundos

«Não acredito em raízes. Somos homens, não somos árvores», disse (mais ou menos assim porque estou a citar de cor) o escritor Antonio Tabucchi em entrevista à revista francesa Lire, para explicar como sendo italiano de nascimento se tornou português por coração e imaginário. Partilho deste ponto de vista. As minhas raízes estão fincadas no chão de Lisboa. O meu pai é nascido e criado no bairro de Marvila; a minha mãe veio ao mundo neste prédio pintado de amarelo na Rua da Madalena que se vislumbra na fotografia. Eu própria vivi a minha primeira infância na casa enorme que a minha avó materna tinha no 4º andar do 252 da Rua dos Fanqueiros.
Concluir-se-á daqui que Lisboa e Portugal são a minha pátria? Sim, se nos ativermos aos dados do B.I. Mas se esta luz, tão mediterrânica, fará sempre parte de mim, há coisas que me afastam irremediavelmente da capital. Entre elas a de pensar que Lisboa, que é tão bonita, ficaria bem melhor sem os lisboetas, que considero os habitantes menos gentis de todo o rincão pátrio. Por isso, acabo por construir um mundo meu feito de pedacinhos de outras pátrias - Londres, capital do meu imaginário literário; Madrid, que proporciona a quem por ela passa um imenso sentido de possibilidade; Roma, tão marcada pela História; o Porto, severo na aparência e encantador quando lhe dedicamos um passeio mais atento. Neste mundo em que a tecnologia tornou possível tanto cruzamento de informações e tanta partilha de experiências, ainda faz sentido falar das nações com uma linguagem do século XIX? Deverá um português sentir-se culpado por amar a Espanha? Por mim, prefiro acreditar que o céu é o limite.

6 comments:

said...

Resposta directamente no Pé Esquerdo :)

manhã said...

Esta ideia fez-me pensar que não, não partilho deste ponto de vista, por mais que considere os espanhois mais alegres, por mais que considere Paris mais romântica and so on, o meu lugar, o meu lugar será sempre Lisboa e os seus arredores.

Anonymous said...

Tabucchi tem razão porque pertencemos aos afectos e não aos lugares. Xicoração.

Thiago said...

O que se passa com Tabucchi passa-se comigo em relação a Itália, mas eu tenho lá raízes, ainda que nos meus trisavós...no entanto, concordo com o carlos ,pois pertencemos igualmente a afectos, ainda que não nos liguem a determinados sítios ou épocas quaisuqe raízes.

mais um post muito interessante;-)

ellla said...

Pondo de lado a teoria, a pratica fala que por mais bucolico que seja o pais que nascemos (ou crescemos - o meu caso, nasci e vivi em Paris até meus 9 anitos), sentiras falta, mesmo venhas a ter um sucesso estrondoso fora, porque ha sensacoes, pessoas e momentos que nao poderas recuperar noutro lado. Voltei as origens aos 24 anos, e posso te dizer que fikei decepcionada, mas uma parte de mim ficou viva dentro de mim,qdo apagada desde os 9 anos...:)
E para todos posso dizer que Portugal pode estar orgulhoso do que é hoje, e nao se vejam como coitadinhos, porque estamos em muito bom caminho..

sou conhecida do thiago e mana da xana mistinguette ( se a conheces)

maria joão martins said...

Bem-vinda, Ella! Volta sempre. De facto, esta questão das raízes e da relação com os lugares que amamos é-me cara. Tenho uma paixão pela Geografia e, se houvesse Euros, gostaria de ser globetrotter.