Tuesday, January 31, 2006


Os meus favoritos

Gosto muito, muito de Woody Allen, talvez, por isso, não seja tão entusiasta de um filme atípico dele como os meus queridos amigos. Aí vai a lista dos meus «woody's» favoritos:

1. Manhattan (1979);

2. The Broadway Danny Rose (1984);

3. A Rosa Púrpura do Cairo (1985);

4. O Misterioso Assassínio em Manhattan (1993);

5. Toda a Gente Diz que te Amo (1996);

6. Sweet and Lowdown (1999);

Friday, January 27, 2006

Um Lugar ao Sol, de George Stevens


O carteiro não toca sempre duas vezes
(a propósito de Matchpoint, de Woody Allen)
Ainda não considero Matchpoint o Woody Allen da década, até porque esta ainda está a meio e espero sempre muito do homem que realizou Manhattan ou A Rosa Púrpura do Cairo. Mas gostei. Para além de dar a ver o loft com vista sobre Tamisa para onde me mudaria se fosse contemplada com o Euromilhões, Matchpoint é um drama com tese, por sinal bem defendida.
Penso, no entanto, que a narrativa se arrasta de forma pouco menos do que monotóna até aos 15 minutos finais. Uma paixão sexual irresistível e um adultério que, a determinado momento, se torna demasiado inconveniente para os planos dos intervenientes nesta história, podem ser elementos interessantes, mas Woody Allen conta-a à imagem e semelhança de todos os outros romances e filmes sobre o assunto. Os actores estão irrepreensivelmente dirigidos, a realização é segura, Londres extremamente fotogénica, mas a verdade é que, ao contrário do que me acontece na maior parte dos outros filmes do realizador, não me sentia empolgada. Até aos 10 minutos finais quando Allen apresenta a sua tese - por amor aos que ainda não viram, não digo qual é - , encerrando a elipse da narrativa.
Matchpoint, co-produzido pela BBC, é o mais europeu dos filmes de Woody Allen. Mas se, de alguma forma, pairam ali os «fantasmas» de Fanny Ardant e Gérard Dépardieu em A Mulher do Lado, de Truffaut, nem por isso deixei de associar a obra de Allen à que me parece ser a sua genealogia americana, nomeadamente Um Lugar ao Sol, obra-prima de George Stevens protagonizada por um triângulo de ouro formado por Montgmory Clift, Elizabeth Taylor e Shelley Winters, e O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes, de Tay Garnett, com Lana Turner e John Garfield. A diferença está justamente no final que não vos devo contar. Nos anos 40 e 50 , quando aqueles filmes foram realizados, o cinema contava histórias morais. Hoje - sabe- se - o carteiro nem sempre toca duas vezes.

Wednesday, January 25, 2006



Cúmplices

«Não me engana a memória quando me põe assim numa bandeja tudo o que foi nosso. Como num restaurante sumptuoso, quando trazem o carrinho das sobremesas, os nossos dias tiveram tudo o que dois namorados podem desejar. Uma dádiva da teoria de probabilidades que determinara que a estatística pusesse nas nossas mãos uma combinação de números que funcionou. Encontros inocentes em que nos púnhamos a escrever um dicionário novo para nomear pela primeira vez as peças do universo; a lenta descoberta dos nossos objectos sagrados; a fremente expressão da curiosidade, que acabaria por dar lugar ao desejo; o eterno jogo de estender pontes sobre o mar da culpa; e o medo, o imenso medo de colher a fruta madura que, desde que o mundo começou a funcionar, pede para ser comida».

Jordi Nadal, Tão Perto de Ti;



Monday, January 23, 2006

Domingo de eleições

Na aldeia que é o meu bairro de Lisboa os casais de meia idade endomingam-se para votar. Ele põe uma gravata sob o anorak e ela tira da naftalina o casaco dos Natais. Tomam um café sem falar e vão devagarinho, Estrada de Benfica fora, a gozar um tímido sol de Inverno. Vão até às assembleias de voto na Secundária Pedro de Santarém, compram bolos ou castanhas aos vendedores que montam banca no local sempre nesta ocasião. Por qualquer razão que a História e a Sociologia ainda não apuraram, os Domingos de eleições têm, em Portugal, uma qualquer aura que os torna diferentes de todos os outros. Será por que estas pessoas ainda se lembram do tempo em que os votos não passavam de uma encenação perversa? Ou porque se sentem chamados à responsabilidade de assumir um pequeno poder, que só se volta a repetir quatro anos depois?

Thursday, January 19, 2006



Este promete ser um fim-de-semana passado no escurinho de cinema, sem, no entanto, esquecer o dever cívico de Domingo. Próximas sessões: Matchpoint, de Woody Allen, e Orgulho e Preconceito, de Joe Wright.

Tuesday, January 17, 2006

foto de MJM

«Em todas as coisas há notas futuras que ainda não soaram nunca. Todas esperam alguém que dê vida ao momento em que hão-de soar. Todas ao nosso alcance, como a sombra fugidia de uma nuvem que não sabe nada ainda do rumorejar dos dias que hão-de passar para sempre.»

Jordi Nadal, Tão Perto de Ti, pág. 48 (edição portuguesa Âmbar)

Monday, January 16, 2006

Folhetim, a partir de 4ªfeira

Há muito que a imprensa periódica perdeu a tradição de publicar folhetins com continuados, talvez porque a saga do futebol substituiu no coração dos leitores a triste história da Coxinha do Tide. A partir da 4ªfeira, a autora deste blog propõe-vos o regresso, não da Coxinha, mas do folhetim no novo blog, criado para o efeito, «Um literato em alpercatas» (literatoemalpercatas.blogspot.com). O herói será Palmito do Amaral, um intelectual de esquerda à procura de rumo na Lisboa do século XXI. Adverte-se desde já que a sua leitura não dispensa a manutenção da fidelidade a «je ne veux pas travailler» :)


Um filme a não perder
É um filme de Natal, mas, felizmente, ainda está em exibição. Realizado pelo francês Christian Carion, conta o autêntico milagre operado pela vontade humana na noite de Natal de 1914, quando os exércitos francês, escocês e alemão sairam das trincheiras para partilhar o pouco que todos tinham nessa Consoada tão distante de casa. Apesar do impacto duma propaganda que favorecia o ódio mais cego entre os três beligerantes, apesar da dureza em que diariamente se lutava pela sobrevivência, o conhecimento do rosto do inimigo mudará para sempre estes homens que, doravante, encararão a guerra como ela é - um absurdo conduzido por aqueles a quem aproveita tamanho crime. De resto, esta não é uma história anti-belicista criada por um argumentista engenhoso. Aconteceu mesmo, na frente ocidental de uma guerra selvagem.

Friday, January 13, 2006



Ainda as Crónicas de Nárnia


Em mais uma viagem de comboio, iniciei a leitura do 2º volume da saga de C.S. Lewis: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. Fiquei deliciada com a dedicatória, que passo a transcrever:

«Minha querida Lucy,

Escrevi esta história para ti, mas quando a comecei não me apercebi de que as raparigas crescem mais depressa que os livros. O facto é que já estás demasiado crescida para histórias de fadas e na altura em que o livro estiver impresso e encadernado vais estar mais crescida ainda. Porém, um dia virá em que terás idade suficiente para recomeçares a ler histórias de fadas. Poderás então tirá-lo de uma prateleira, do alto de uma estante, limpar-lhe o pó e dizer-me o que pensas dele. É provável que nessa altura eu já esteja demasiado surdo para ouvir e demasiado velho para entender uma palavra do que disseres, mas ainda serei o teu padrinho muito amigo C. S. Lewis».

Felizmente, já cheguei à tal idade de reabrir estes livros.

Wednesday, January 11, 2006

As Crónicas de Nárnia

Não sou uma entusiasta da literatura fantática mas admito que, sentadinha no comboio para Oeiras que me leva à «repartição», sabe-me muito bem a leitura de As Crónicas de Nárnia, de C.S. Lewis. Contemporâneo de Tolkien (o magistral criador de O Senhor dos Anéis) e, tal como ele, emérito medievalista, pegou em todo um fundo literário de lendas e mitos e criou uma saga em que se movem feiticeiras boas e más, animais falantes animados por um leão semi-divino e crianças curiosas. Estou apenas no primeiro de sete volumes, mas não vou parar por aqui. Só ainda não sei se verei o filme da Disney ou se prefiro ficar com as ilustrações a preto e branco de Pauline Baynes, acrescentadas apenas por aquelas que a minha imaginação ditar.

Monday, January 09, 2006


Mas, dizia o Padre António Vieira, os portugueses têm um berço pequeno para nascer e o mundo inteiro para morrer. Como este lisboeta que, em plena Idade Média, nasceu em Lisboa e morreu em Pádua. Será este o nosso fado?

Friday, January 06, 2006




Fosse eu gaivota para te levar o céu de Lisboa


Thursday, January 05, 2006

fotos de MJM




«Raízes», pátrias e outros mundos

«Não acredito em raízes. Somos homens, não somos árvores», disse (mais ou menos assim porque estou a citar de cor) o escritor Antonio Tabucchi em entrevista à revista francesa Lire, para explicar como sendo italiano de nascimento se tornou português por coração e imaginário. Partilho deste ponto de vista. As minhas raízes estão fincadas no chão de Lisboa. O meu pai é nascido e criado no bairro de Marvila; a minha mãe veio ao mundo neste prédio pintado de amarelo na Rua da Madalena que se vislumbra na fotografia. Eu própria vivi a minha primeira infância na casa enorme que a minha avó materna tinha no 4º andar do 252 da Rua dos Fanqueiros.
Concluir-se-á daqui que Lisboa e Portugal são a minha pátria? Sim, se nos ativermos aos dados do B.I. Mas se esta luz, tão mediterrânica, fará sempre parte de mim, há coisas que me afastam irremediavelmente da capital. Entre elas a de pensar que Lisboa, que é tão bonita, ficaria bem melhor sem os lisboetas, que considero os habitantes menos gentis de todo o rincão pátrio. Por isso, acabo por construir um mundo meu feito de pedacinhos de outras pátrias - Londres, capital do meu imaginário literário; Madrid, que proporciona a quem por ela passa um imenso sentido de possibilidade; Roma, tão marcada pela História; o Porto, severo na aparência e encantador quando lhe dedicamos um passeio mais atento. Neste mundo em que a tecnologia tornou possível tanto cruzamento de informações e tanta partilha de experiências, ainda faz sentido falar das nações com uma linguagem do século XIX? Deverá um português sentir-se culpado por amar a Espanha? Por mim, prefiro acreditar que o céu é o limite.

Tuesday, January 03, 2006

Budapeste (a propósito de grandes momentos de 2005)

Budapeste não é cidade que ofereça desculpas à indolência. Os excessos da gula podem (e devem) ser devidamente temperados por uma surtida aos banhos que são, aqui, uma espécie de desporto nacional. Opções não faltam já que esta tradição remonta à ocupação da Hungria por romanos e turcos otomanos, povos que veneravam a arte de bem desfrutar da (e na) água acima das demais.
Se aspira a requintes de sultão, há que optar pelos Banhos do Hotel Gellért, um palace fin de siècle, ligeiramente tocado pelo charme discreto da decadência. Inaugurado na década de 1880, este estabelecimento inclui uma piscina interior e outra exterior, para além duma fonte de águas termais, podendo os banhos ser devidamente complementados por diversos tratamentos de beleza e massagens. O mesmo acontece no mais familiar e, porventura, mais belo complexo de piscinas de Budapeste – o Széchenyi (situado num dos Parques da cidade – o Városliget – junto ao Zoo). Construído no princípio do século XX, é anualmente frequentado por mais dum milhão de pessoas, 20 a 30% das quais estrangeiras, e oferece várias piscinas exteriores e interiores, cuja temperatura oscila entre os 18 e os 38ºC. Neste cenário que poderia ser de um filme de Visconti, ninguém resiste à tentação.
Por entre crianças de berço que aprendem a nadar e adultos que disputam partidas de xadrez com água até à barba, descobre-se que a vida pode ser dançada como uma valsa. À noite, sob as luzes da cidade, o Danúbio tem a cor do veludo azul.

Monday, January 02, 2006

Recordar Hannah Arendt

Foi uma excelente forma de começar 2006. No Intercidades de e para a Guarda li cerca de metade das 600 e tantas páginas de Dans le pas de Hannah Arendt, de Laure Adler, uma daquelas prendas de Natal que acertaram na mouche dos meus gostos. Laure Adler, actual directora da France Culture, é uma historiadora da cultura, das mentalidades e das ideias e foi sob este ponto de vista que biografou a fascinante filósofa judia, de origem alemã, Hannah Arendt (1906-1975). Fruto de uma investigação exaustiva nos vários locais onde a biografada viveu, o livro tem a agilidade narrativa de um romance (são empolgantes as páginas dedicadas ao romance de Hannah, ainda muito jovem, com o seu professor e futuro membro do Partido Nazi, Martin Heidegger), mas tem também a profundidade bastante para colocar uma figura excepcional no seu contexto histórico. Recomendo.