Thursday, December 22, 2005






imagem do filme O Natal de Charlie Brown


Inventem-se novos Natais!
Sou habitualmente uma rapariga alegre, mas como também vim «armadilhada» por um gene rebelde, abomino que me mandem estar bem disposta por decreto. Nunca me diverti verdadeiramente numa festa de fim-de-ano, esqueço-me da Páscoa e - heresia das heresias - prefiro o Halloween ao Natal. Afinal, as bruxas sempre podem variar na escolha da farda.
Sou uma pessoa de muitos afectos. Amo e julgo ser amada, mas é agridoce o sentimento que esta quadra me desperta. A coisa intensificou-se após a morte da minha mãe há quatro anos. A minha família, que nunca foi convencional, desestruturou-se completamente e já não tem qualquer relação com o que mandam os figurinos natalícios. Os meus amigos - quase todos, pessoas muito independentes a quem a vida levou para um destino singular - pagam, nesta quadra, a factura que a hipócrita sociedade portuguesa lhes apresenta. Há quem seja casado e pai/mãe de filhos mas acabe por passar sozinho a noite de Natal, há quem se submeta à tradição e partilhe o dia com tios e primos que prefere esquecer durante o resto do ano, há quem, pura e simplesmente, se meta nos copos enquanto espera pela libertadora manhã de 26.
O triste disto tudo é que alguns de nós até gostam do Natal, pessoalmente fascina-me o misto de fantasia e religiosidad originalmente associado à sua celebração. No entanto, vejo-o transformado numa espécie de busca desesperada para, durante dois dias, recuperar a família à portuguesa tal como ela era nos tempos dos nossos avós, quando não havia divórcios, crianças com tutelas partilhadas, quando os homossexuais tinham de viver escondidos dentro de si mesmos, quando homens e mulheres casavam com o primeiro que aparecesse só porque esse era o único ritual possível para a admissão no círculo dos adultos e respeitáveis. Enquanto o Natal não se adaptar às realidades dos novos tempos, creio que provocará mais sofrimento do que alegria. Aceitam-se ideias!

5 comments:

said...

Este post está brilhante. Não sei se o Natal tem um sabor agridoce para mim, para falar verdade começo a não saber que sabor tem.
Começou há tempos quando deixei de me sentir "especial" no dia de Natal e passou ser tudo ordinário. Apesar de gostar de reunir a família e de fazermos coisas que mais ninguém faz, como comer vatapa!
Mas deve ser mesmo isso que referiste, o nosso problema é que continuamos a querer viver o Natal como era dantes, com a excepção de que hoje as pessoas gastam mais dinheiro, não porque haja mais dinheiro para gastar, mas porque há uma cultura do gastar dinheiro.
Mas a questão dos afectos nunca desaparece, e podemos passar o ano desavindos mas no Natal temos que dar uma espécie de "oportunidade". Para mais tarde voltar tudo ao mesmo, gostava de ver o lado optimista e pensar que ao menos foi uma oportunidade...num ano.

Anonymous said...

Acho que tenho a sorte de ter nascido numa família em que sempre nos gostámos uns dos outros (mesmo quando havia "pegas") e por isso o Natal sempre foi um período de festa(tirando quando a morte entra na família). De qualquer maneira venho desejar-te um bom e feliz natal para ti e para os teus. Xicoração grande.

inês said...

revejo-me em tudo um pouco do que escreveste. passamos o natal onde exige a matriarca, aminha avó de 89 anos, porque ela já não dura muito. aí às dez, quando ela já está cansada, vamos, os primos e amigos, para os copos. no dia 2~5, rumo a outra casa, onde está o meu pai, porque também já não tenho uma família convencional.
no meio de tantas reivindicações, devo dizer que a empresa não me pagou, ainda, o ordenado de dezembro, e não tenho dinheiro, sequer, para oferecer uma prenda à minha mãe. mas acho que ela não se vai importar.
espero ver-te a ti, porque também és da minha família. e, por estes dias, há mais tempo para estar com ela.
um beijo enorme da amiga.

Peg solo said...

o natal é, em última análise, só um dia! um dia igual aos outros. Durante o jantar de Natal uma minha prima minha recebeu uma msg de feliz natal em árabe, parecia árabe, o que n deixa e ser curioso tendo em conta q os muçulmanos n têm natal.. temos q fazer campanha pelo Natal como em tempos se fez pelo Mário Soares. O NATAL É FIXE! Feliz Natal MJM
ps. ainda bem que me lembrei do Calvin, não queria ser acusada de plagio.

maria joão martins said...

Este Natal foi inesquecível. Uma palavra de grata ternura para os vários «Pais Natais» da minha vida que o tornaram assim!Beijos imensos.