Friday, October 14, 2005

Tiago

Às vezes corro atrás de foguetes, mas é ao colo dele que volto sempre. Fico por ali, naquela paz de não ter de fazer pose. Em troca, ele finge que não percebe como, às vezes, estou lixada com a vida e ri-se muito das minhas graças de vilã de pés de barro. Somos ambos dramáticos, caóticos, imprudentes e implacáveis com as muitas víboras de língua bífida que rastejam por aí. O mundo não nos chega, mas ele vai bem mais longe do que eu. Agora está no Nepal e manda aos amigos excertos do diário que vai escrevendo com a muita arte de que foi dotado: «Escrevo estas linhas sentado nas arquibancadas de Namche Baazar a 3440 m de altitude. Aqui faz sentido dizer que sou o rapaz do poema de Mário Cesariny de Vasconcelos a quem apetece dar um salto, dançar comigo e evolar-me nos ares feito nada. Caminhamos 6 horas por trilhos intocados onde judas perdeu as botas (e outros como ele). O trilho mais soberbo, íngreme como uma escada de caracol a caminho do infinito, dá de caras com o Evereste, a montanha mágica e horrenda, venerada como o deus Hanuman».

A partir de amanhã, estará incontactável mas pede que o sintamos no coração. É o irmão que a vida me deu.

3 comments:

Anonymous said...

A minha vida seria muito mais baça sem estas loucuras, que alguns fazem por mim. E pensar que há gente que nunca espreitou nenhum lado da vida, nem o direito nem o avesso... Gente que seguiu uma via de sentido único, sem nunca pecar, sem nunca chorar de arrependimento, sem nunca ganhar o direito ao perdão....
Sigo o vosso caminho com a minha luz de presença. espero-vos no regresso da viagem, qualquer que ela seja, quando quer que seja.
armandina

Anonymous said...

Antes de mais obrigado por comentares no meu blogue. Quanto a posto, aqueles que amamos estão sempre presentes mesmo que estejam longe. Xicoração

maria joão martins said...

Muita obrigada pelas vossas palavras. Parece que a vida me transformou em especialista em afectos vividos com muitos kms de distância, mais «non, je ne regrette rien».