Your Hidden Talent |
Monday, October 31, 2005
Wednesday, October 26, 2005
Pela primeira vez na minha vida profissional foi com algum pesar que entreguei uma factura de táxi na secretaria do «ganha-pão». Aquela era especial, tinha uma particularidade que decerto a tornava diferente de todas as outras, correndo mesmo o risco de vir a proporcionar alguns equívocos históricos, mas divertidos. A matrícula era normalíssima, o trajecto também, o valor nem sequer era exorbitante, mas, no espaço destinado à assinatura do motorista podia ler-se distintamente... Jorge Sampaio.
Monday, October 24, 2005
Friday, October 21, 2005
O porquê de uma eleição
A gargalhada estridente de Angelica (Claudia Cardinale) a perturbar a paz beata dum jantar em casa dos Salina; os sapatos apertados do arrivista Don Calogero Sedara; a longa sequência do baile que, na verdade, é uma cerimónia de passagem de testemunho duma classe social a outra - são apenas algumas das possíveis razões que levaram os leitores (acidentais ou não) deste blog a eleger O Leopardo como o melhor filme do italiano Luchino Visconti. Em parte, a escolha coincide com a minha. É, de facto, aquele de mais gosto - aliás, aquele que mais amo porque, em matéria de Visconti, recuso-me a usar palavra tão poucachinha como «gostar». Mas a verdade é que também não me chocaria escolher Violência e Paixão, Os Malditos ou O Intruso. Não gosto tanto de Morte em Veneza, que aqui aparece em segundo lugar, embora admita que, por causa deste mesmo filme, não deixo de ouvir Mahler (o compositor que prefiro) sem o associar à agonia de desejo de Dirk Bogarde. Ao contrário de Fellini, que recebeu quatro Oscars da Academia de Hollywood, Luchino Visconti nunca foi um realizador consagrado pelos poderes, talvez porque não escondia que, para além de infinitamente requintado e de descender dos Condes de Milão, era comunista e homossexual. Não fazia filmes perfeitos (há quem diga que O Leopardo é desequilibrado) mas realizava cinema com o mesmo grau de exigência que punha na direcção de óperas protagonizadas pela Callas. Era único como todos os que aspiram ao absoluto.
Thursday, October 20, 2005
Acredito que a boneca preferida é o primeiro amor de uma menina. A minha (cuja fotografia reproduzo acima) era a Leslie, apelidada de «la hermanita de Nancy» pela Fábrica de Muñecas Famosa. Dormia na minha cama e lembro-me de acordar sobressaltada porque sonhara que a deixara esquecida em qualquer parte. Alertada por pesadelos tão antigos, quando saí da casa da minha infância, levei-a para a casa de adulta, reservando-lhe lugar de honra na pequena colecção de bonecas que tenho vindo a fazer. Sei que, na maior parte dos casos, essa ternura nunca se perde totalmente, talvez porque fui educada por uma mãe que tratava carinhosamente Leslie e o seu «exército de irmãs». Penteava-as e fazia-lhes roupas com requintes que eu nunca saberei reproduzir - vestidos em malha de pena de pavão e saias debruadas a renda. Mãe já não tenho mas guardo, religiosamente, esses vestígios de supremo amor.
Monday, October 17, 2005
Fritz Lang
Fui ver The Blue Gardenia por engano. Li o título no Público e decidi ir, persuadida que ia ver um policial negro, muito forties, com o Alan Ladd e a Veronica Lake. Saíu-me um policial, sim, mas de Fritz Lang, porque, na verdade, baralhei as «flores» (o outro é The Blue Dahlia). Devo dizer, no entanto, que a intuição, ou o que quer que me tenha levado à Cinemateca num sábado de Porto-Benfica, não poderia ter sido melhor. Ao estilo do realizador alemão (emigrado para os Estados Unidos e para Hollywood por causa do nazismo), «saiu» uma intriga policial desenvolvida com um contenção narrativa absolutamente contemporânea, com muitos níveis de análise e compreensão, alguns dos quais remetem para o ambiente de perseguição que o «maccartismo» criava nos E.U.A à altura em que Lang realizou The Blue Gardenia. Na folhinha que a Cinemateca habitualmente distribui aos espectadores, João Bénard da Costa escreve: «(...)o cinema é tanto coisa de sons como coisa de imagens. E que para quem está in como para quem está off (personagens-espectadores) é preciso tanta atenção a uns como a outros. Só assim se faz um grande filme sobre pequenas pessoas. Só assim se tem um alto olhar sobre um baixo mundo».
Friday, October 14, 2005
Às vezes corro atrás de foguetes, mas é ao colo dele que volto sempre. Fico por ali, naquela paz de não ter de fazer pose. Em troca, ele finge que não percebe como, às vezes, estou lixada com a vida e ri-se muito das minhas graças de vilã de pés de barro. Somos ambos dramáticos, caóticos, imprudentes e implacáveis com as muitas víboras de língua bífida que rastejam por aí. O mundo não nos chega, mas ele vai bem mais longe do que eu. Agora está no Nepal e manda aos amigos excertos do diário que vai escrevendo com a muita arte de que foi dotado: «Escrevo estas linhas sentado nas arquibancadas de Namche Baazar a 3440 m de altitude. Aqui faz sentido dizer que sou o rapaz do poema de Mário Cesariny de Vasconcelos a quem apetece dar um salto, dançar comigo e evolar-me nos ares feito nada. Caminhamos 6 horas por trilhos intocados onde judas perdeu as botas (e outros como ele). O trilho mais soberbo, íngreme como uma escada de caracol a caminho do infinito, dá de caras com o Evereste, a montanha mágica e horrenda, venerada como o deus Hanuman».
A partir de amanhã, estará incontactável mas pede que o sintamos no coração. É o irmão que a vida me deu.
Thursday, October 13, 2005
«Concurso» de ideias
Confesso: tenho um fraco por histórias de bruxas, fantasmas & outras assombrações, daquelas à Daphne du Maurier. Amanhã mesmo, à meia noite, estarei no Convento do Carmo, não para me transformar em qualquer coisa, mas para assistir ao lançamento de mais um volume do Harry Potter.
Tal singularidade no perfil leva-me, pois, a apreciar particularmente a tradição do Halloween. Este ano gostava de fazer uma celebração. Nesse sentido, venho solicitar algumas ideias ao respeitável publico deste blog - onde? como? o que fazer? O(s) vencedor(es) poderão optar entre gostosuras ou travessuras.
Tuesday, October 11, 2005
Delito de dançar o chá-chá-chá
Monday, October 10, 2005
Hora de virar páginas
... Porque há que deixar morrer para continuar, vida fora...
Adeus Português
Nos teus olhos altamente perigosos/
vigora ainda o mais rigoroso amor/
a luz dos ombros pura e a sombra/
duma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo/
à roda em que apodreço/
apodrecemos a esta pata ensanguentada que vacila/
quase medita/
e avança mugindo pelo túnel/
de uma velha dor/
Não podias ficar nesta cadeira/
onde passo o dia burocrático/
o dia-a-dia da miséria que sobe aos olhos vem às mãos/
aos sorrisos/
ao amor mal soletrado/
à estupidez ao desespero sem boca/
ao medo perfilado à alegria sonâmbula à vírgula maníaca/
do modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta casa comigo/
em trânsito mortal até ao dia sórdido/
canino/
policial até ao dia que não vem da promessa/
puríssima da madrugada/
mas da miséria de uma noite gerada/
por um dia igual
Não podias ficar presa comigo/
à pequena dor que cada um de nós/
traz docemente pela mão/
a esta pequena dor à portuguesa/
tão mansa quase vegetal
Mas tu não mereces esta cidade não mereces/
esta roda de náusea em que giramos/
até à idiotia/
esta pequena morte/
e o seu minucioso e porco ritual/
esta nossa razão absurda de ser
Não, tu és da cidade aventureira/
da cidade onde o amor encontra as suas ruas/
e o cemitério ardente/
da sua morte tu és da cidade onde vives por um fio/
de puro acaso/
onde morres ou vives não de asfixia/
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro/
sem a moeda falsa do bem e do mal
Nesta curva tão terna e lancinante/
que vai ser que já é o teu desaparecimento/
digo-te adeus/
e como um adolescente/
tropeço de ternura/
por ti
Alexandre O'Neill
Thursday, October 06, 2005
Tuesday, October 04, 2005
Monday, October 03, 2005
Mais uma dica de leitura
Como bisbilhoteira que sou, adoro livros de memórias, correspondência e diários. Neste momento, detenho-me sobre Cuadernos de Todo, de uma escritora espanhola de que gosto muito - Carmen Martín Gaite (Salamanca, 1925 - Madrid, 2000). Embora ainda esteja no início dum volume de 860 páginas, já encontrei a lucidez e inteligência que caracterizam toda a obra da autora. Aí vai um excerto só para abrir o apetite:
«Hay un inveterado desprecio contra el que se aísla a pensar. Si uno tiene dinero y va de putas o a jugar al golf no se indigna ni la mitad que si uno tiene dinero y se pone a estudiar o a comprarse libros, en vez de comprarse un coche, que sería lo adecuado. No se le envidia, cosa que siempre me ha chocado mucho.»