Friday, September 30, 2005


Manual de civilidade para meninas rabinas

Sim, é verdade que os contraceptivos foram inventados para libertar a mulher do secular terror duma gravidez indesejada. Também ninguém põe em causa que, graças ao esforço das sufragistas de há 100 anos, somos agora seres políticos de pleno direito - elegemos e somos eleitas, tal como os homens da nossa vida. Vamos à Universidade em maior número do que eles, diga-se - em abono da verdade - com nefastas consequências para a alegria de alguns cursos. E, no entanto...

E, no entanto, minhas senhoras... nada de euforias. Diz-me a minha longa experiência de menina rabina que, 30 anos depois da revolução dita dos cravos, as mentalidades, mesmo entre pessoas que votam à esquerda, não distam muito das expressas pela revista Menina e Moça, órgão oficial da Mocidade Portuguesa Feminina. Por isso, caras amigas, se querem singrar, airosamente e em velocidade de cruzeiro na sociedade portuguesa, tomem juízo e sigam estes meus conselhos:

1. Case-se, por amor de Deus! O homem pode ter um sovaquinho incontornável; cortar as unhas em público e não ter qualquer respeito por si, mas é um homem e deve ser tratado como um animal em vias de extinção. Só a presença dele no maple e em alguns jantares assegurará que você não é uma pobre criatura desasasada.
2. Dirija-se aos seus superiores com um fiozinho de voz. Sabia que a Bette Davis é a actriz mais detestada pelos homens? Francamente, do que estava à espera? Que eles apreciassem aquele sorriso desdenhoso e aquela voz segura de si? Por isso, faça de conta que vai entrar numa unidade de cuidados intensivos e implore a sua sábia orientação. Se não o fizer a um ritmo quase diário, arrisca-se a ouvir um ultrajante: «Por que diabo não és tão doce e envolvente como a Belinha ou a Patuxa?»
3. Não aprecie os homens com o mesmo à vontade com que eles falam das nossas mamocas. Mesmo que eles sejam os seus melhores amigos, mesmo que partilhem consigo as bejecas e a taça de amendoins, não gostam de a ouvir comentar os atributos físicos de outros homens. Não se iluda, aquele olhar reprovador significa apenas uma coisa: «Com que então ninfomaníaca?»
4. Não se mostrem demasiado dinâmicas e seguras do caminho que querem seguir. Como escrevia a referia revista Menina e Moça, as mulheres demasiado dinâmicas são «o terror dos que aspiram à tranquilidade». A amiga pensava que 20 anos na escola lhe permitiam ser dona do seu destino? You stupid woman! Você nasceu mulher e, como tal, deverá ser um espírito pacato e facilmente conformável com as circunstâncias. Isto foi escrito em 1941? Sim, mas, já dizia o Salazar, que «os homens mudam pouco, os portugueses quase nada».E - deixem que vos diga - ele sabia do que falava.


Vá, meninas, não sejam preguiçosas. Treinem e cantem comigo: «I'm a Barbie girl/with a barbie face...»

3 comments:

said...

Muito bem, gostei!
Pois que o teu post fez-me lembrar um trabalho que tive de fazer para a fac. no qual estudei um jornal chamado ABC, e mais especificamente as crónicas femininas da Madame Dentelle. Nunca se imaginou tanta risota na BN. Tlv um dia faça um post sobre isso!
BJ

Peg solo said...

Sábias palavras... essa do falar com fiozinho de voz é horrivel! ja tentei mas não consigo, não faz parte de mim, ja podia ter passado muitos exames orais assim!

maria joão martins said...

É claro que não tenciono beber deste veneno. A rebeldia paga-se cara, mas dá um gozo descomunal.