25 de Abril sempre
Estava a dormir, mas acordei quando o meu pai, regressado da rua, chamou minha mãe para anunciar que havia um golpe de Estado. Lembro-me destas palavras como se fossem de ontem, mas também lembro de me voltar tranquilamente para o outro lado: aos 6 anos não é possível saber-se o que isso pode representar. Estávamos no casarão da minha avó, na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa. Horas depois, mesmo uma menina que só pensava em brincar com bonecas, não podia impedir-se de ver os carros blindados na rua; de ouvir os comunicados emitidos pelo posto de comando das Forças Armadas e os tiros no Carmo. Devo ter imaginado um cenário de guerra porque, para me aquietar, minha mãe disse-me: «Não tenhas medo. É festa!»
E era. Nos dias que se seguiram, esta criança andou às cavalitas do pai (que hoje treme de pensar nesta «inconsciência») na libertação dos presos políticos e em manifs várias, com o entusiasmo que hoje só se reserva para o clube da nossa preferência. Em Outubro de 1974 fui para a 1ª classe e a festa continuou. As nossas canções de roda eram «Grândola, Vila Morena», «Gaivota» e outras de que já não me lembro. Brincávamos aos valerosos capitães e aos indignos PIDES; aprendíamos que já não era preciso decorar os rios de Angola e os caminhos-de-ferro de Moçambique. Em Abril seguinte, decorámos a escola para a realização das primeiras eleições livres. É por isso que, mesmo passados 32 anos, não posso deixar de assinalar a data com os cravos vermelhos, mesmo correndo o risco de ser déjà-vu. Tal como o Natal, Abril não é sempre que um homem quiser.
1 comment:
Liberdade sempre :-) no matter what ;-)
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