Monday, July 18, 2005

Blind date com a História

Em Budapeste. a História dos últimos 50 anos não é coisa a acompanhar de manual em riste – toma forma humana nas pessoas com quem nos vamos cruzando, rua fora. Michael, chamemos-lhe assim, teria mais de 80 anos e exibia, alto e bom som, um forte sotaque californiano. Meteu conversa connosco numa esplanada ao ver o nosso Guia «American Express», escrito em Português - queria saber que língua é esta em que «Budapeste» se escreve com «e» no final. Respondemos e, a propósito dum amigo que tem nas Azenhas do Mar, sentou-se na nossa mesa e desfiou pedaços da sua vida, que é, afinal, uma vida da Europa Central,marcada a ferro e fogo pelas grandes tragédias do século XX. Filho dum tipógrafo de Budapeste, deixou o país aos 15 anos, depois de ter resistido ao cerco soviético no final da IIª Guerra Mundial e rumou, como milhões de refugiados, ao «El Dorado» americano. Transformado num velhinho bronzeado, alberga-se agora no aconchego do Hotel Intercontinental porque a cidade em que nasceu adquiriu contornos de terra incógnita. Apesar da simpatia contagiante, não consigo evitar de fazer «contas de cabeça». O homem resistira ao cerco soviético, ao lado de quem? A resposta surge com um calafrio: da Alemanha nazi. Mais de seis décadas depois, a evidência da conclusão ainda provoca um «nó» na garganta.

2 comments:

Helena said...

que história...

maria joão martins said...

Às vezes penso que as histórias bizarras vêm ter comigo. Noutras, acordo menos narcíssica e tomo-as por miragens. Seja como for, proporcionam um misto de perplexidade e prazer.