O filósofo e o amor
«O prazer de amar sem que se ouse dizê-lo tem os seus espinhos; mas também tem as suas doçuras. Em que transporte não estamos ao formarmos todas as nossas acções em vista de agradar a uma pessoa que estimamos infinitamente! Estudamo-nos todos os dias a fim de acharmos os meios de nos descobrirmos, e nisso empregamos tanto tempo como se tivéssemos de manter aquela que amamos. Os olhos acendem-se e apagam-se num mesmo momento; e ainda que não vejamos manifestamente que aquela que causa toda esta desordem disso se dê conta, temos contudo a satisfação de sentir todos estes frémitos por uma pessoa que tão bem o merece. Queríamos ter cem línguas para nos darmos a conhecer; porque, como não podemos servir-nos da fala, somos obrigados a reduzir-nos à eloquência da acção».
Blaise Pascal, Discurso sobre as Paixões do Amor, edição Fenda, tradução de Miguel Serras Pereira;
1 comment:
deep deep blue sea...
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