Wednesday, May 31, 2006



Espectáculo

Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalty
que eu vou transformar para ti
eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar
Quando
tu me vires no music-hall
estarei no palco
cabaça ao sol
ao sol da noite das luzes
à espera dum outro sol
e que os teus olhos os uses
como quem usa um farol
não me olhes só dessa frisa lateral
desce peça cortina e acompanha-me em cena
vamos dar à perna como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos bailar
Quando
tu me vires na televisão
estarei no écran
pés assentes no chão
a fazer publicidade
mas desta vez da verdade
mas desta vez da alegria
de duas mãos agarradas
mão a mão no dia a dia
não me olhes só desse maple estofado
desce pela antena e vem comigo ao programa
vem falar à gente como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos cantar
E quando
à minha casa fores dar
vem devagar
e apaga-me a luz
que a luz destoutra ribalta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta

Sérgio Godinho

Friday, May 26, 2006

Uma surpresa em forma de livro


«Quando há quatro anos vim viver para Barcelona tudo me atordoava: os desvairados prédios de Gaudí; o fragor do trânsito; as Ramblas, sempre cheias de uma turba eufórica e agitada. Mergulhava de cabeça na multidão, como nas águas de um rio, e deixava-me ir assim, até que a corrente me depositasse numa das margens, junto à esplanada de um qualquer café.
No bairro da Graça, em Lisboa, onde cresci, ainda todos me chamam, simplesmente, a menina. Sou Faíza, a filha da Filipa. A irmã da Sofia e da Alexandra. Aqui, em Barcelona, não tenho nome. Não tenho mãe nem pai. Não tenho irmãs. Sou o que há de mais parecido com ninguém.»

Faíza Hayat, O Evangelho segundo a Serpente, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2006

Faíza Hayat, filha de mãe portuguesa, católica, e pai goês, muçulmano. Reside em Barcelona, onde prepara um doutoramento em Antropologia. Não é escritora, não procura sê-lo e, no entanto, o seu primeiro romance, de que aqui vos apresento um extracto, é uma surpresa muito agradável.

Thursday, May 25, 2006

Não está mal, não senhor
You Are New York

Cosmopolitan and sophisticated, you enjoy the newest in food, art, and culture.
You also appreciate a good amount of grit - and very little shocks you.
You're competitive, driven, and very likely to succeed.

Famous people from New York: Sarah Michelle Gellar, Tupac Shakur, Woody Allen
You Should Be A Cancer

What's good about you: you're incredibly kind, caring, and generous

What's bad about you: you can be too moody and impossible to understand

In love: you enjoy wining and dining the object of your affection

In friendship, you're: likely to depend on other friends for emotional support

Your ideal job: historian, marine biologist, or religious figure

Your sense of fashion: you dress to match your mood

You like to pig out on: classic home cooked meals, like mac and cheese

Monday, May 22, 2006

Hum... :)

Your Superhero Profile

Your Superhero Name is The Forgotten Flea
Your Superpower is Seduction
Your Weakness is Spiders
Your Weapon is Your Toxic Bazooka
Your Mode of Transportation is Motorcycle

Friday, May 19, 2006

O filósofo e o amor

«O prazer de amar sem que se ouse dizê-lo tem os seus espinhos; mas também tem as suas doçuras. Em que transporte não estamos ao formarmos todas as nossas acções em vista de agradar a uma pessoa que estimamos infinitamente! Estudamo-nos todos os dias a fim de acharmos os meios de nos descobrirmos, e nisso empregamos tanto tempo como se tivéssemos de manter aquela que amamos. Os olhos acendem-se e apagam-se num mesmo momento; e ainda que não vejamos manifestamente que aquela que causa toda esta desordem disso se dê conta, temos contudo a satisfação de sentir todos estes frémitos por uma pessoa que tão bem o merece. Queríamos ter cem línguas para nos darmos a conhecer; porque, como não podemos servir-nos da fala, somos obrigados a reduzir-nos à eloquência da acção».

Blaise Pascal, Discurso sobre as Paixões do Amor, edição Fenda, tradução de Miguel Serras Pereira;

Tuesday, May 16, 2006



Na aparência é um filme de acção dotado de um elenco luxuoso (Denzel Washington, Jodie Foster, Clive Owen, Christopher Plummer, William Dafoe). O Infiltrado, de Spike Lee, embora cumpra na perfeição esse objectivo, é também uma reflexão irónica sobre o melting-pot de culturas e raças em que se tornou o mundo ocidental e Nova Iorque em particular. Um lugar onde todos enriquecem com a diferença ou onde todos espreitam todos?

Brilhante!

Friday, May 12, 2006




Os livros mais românticos que li

Pediram-me num chat sobre literatura inglesa (e não só) em que participo que indicasse os livros mais românticos que alguma vez li. Os resultados aí estão, para partilhar convosco

- Anna Karenina, de Tolstoi
- O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë
- Sonetos do Português, de Elizabeth Barrett Browning
- O Paciente Inglês, de Michael Ondjake
- O Grande Gatsby, de Scott Fitzgerald

Gostava de saber quais são os vossos :)

Wednesday, May 10, 2006


Um poema em forma de filme: O Novo Mundo, de Terence Malick

Thursday, May 04, 2006



Não basta ser lindo (e solteiro) também importa ser inteligente e empenhado




«Não basta fazer um filme sobre a especulação petrolífera se depois não nos empenharmos na defesa do ambiente»

George Clooney, entrevista à Vanity Fair*, Maio de 2006

* excelente número desta revista norte-americana, em cuja capa se pode ler: «O aquecimento global é uma ameaça mais real do que o terrorismo».

Tuesday, May 02, 2006



Livros da minha vida

Ao contrário do que habitualmente acontece, foi o filme que me levou ao livro e não o contrário. Possession, realizado por Neil LaButte, com Gwyneth Paltrow no principal (e romântico) papel é uma obra estimável, mas não mais do que isso. O livro, da britânica A.S. Byatt, é um esplendor que, em 1990, mereceu o Booker Prize (a maior distinção de literatura inglesa).
A acção decorre paralelamente na actualidade e na Inglaterra vitoriana. Dois jovens investigadores de hoje perdem-se de amores um pelo outro à medida que se vão enleando nas teias de uma inesperada paixão entre dois poetas do século XIX a quem tudo parecia separar. Ao longo de várias centenas de páginas, A.S. Byatt consegue ser simultaneamente erudita, romântica e empolgante.