Wednesday, November 30, 2005



Harry Potter e o Cálice de Fogo

Nao gostei do novo episódio cinematográfico de Harry Potter. Pareceu-me uma espécie de Morangos com Açúcar enriquecido por uma boa panóplia de efeitos especiais. Entre outros pontos fracos, saliente-se o escasso protagonismo dado a Severus Snaple (interpretado por Alan Rickman, um dos actores mais carismáticos do moderna cinema britânico). Embalada por aquela voz, até eu, pobre Muggle, conseguia acreditar nos vastos poderes maléficos de Voldemort, o inominável.

Monday, November 28, 2005


Almas gémeas

Sou uma entre os muitos milhões de fãs da série O Sexo e a A Cidade. Vejo e revejo, volto atrás e ando para a frente, embora admita que não gosto igualmente de todos os episódios. Mas o que passou ontem à noite, na SIC Mulher, é o meu favorito. Depois de uma festa de aniversário traumática, Carrie conclui que as tão procuradas almas gémeas são, afinal, as suas indefectíveis amigas. Não porque se tenha convertido a nova opção sexual, mas porque é nelas que encontra o impulso para se atirar à vida.
Também tenho o meu grupo de almas gémeas que, por acaso (ou talvez não), são do sexo masculino. Gostam de mim (quase) incondicionalmente, ouvem-me, eu ouço-os sobre tudo e mais alguma coisa, fazem-me sentir bonita e divertida, dão-me coragem para me aventurar no mar alto de outros amores mais arriscados. Não quero sequer imaginar como poderia viver sem eles.

Thursday, November 24, 2005

«Cavaco é como um eucalipto: provoca aridez à sua volta.»

Miguel Cadilhe em entrevista à Visão (de 24/11)


Embora não aprecie o entrevistado nem a personagem referida, esta frase atingiu-me em cheio. Talvez porque compreendi que também eu vivo numa floresta de eucaliptos.

Wednesday, November 23, 2005


Miss Bacall

Gostava de ser assim. De ter este olhar entre a insinuação e o desdém. De chegar ao pé do eleito do meu coração e dizer-lhe «Just put your lips together and blow» sem que isso soasse a erudição de pacotilha. Falo de Miss Lauren Bacall, uma das mulheres mais sedutoras da História, que, aos 19 anos, casou com Humphrey Bogart para depois provar que não era só (e já não era pouco) o amor da vida de um mito. Aos 81 anos continua a ter uma presença tão forte como quando contracenava com Bogart ou Gregory Peck e não abdica de ser uma voz crítica. Em entrevista ao El Pais Semanal (de 20/11), afirma, desassombrada: «A mediocridade hoje afecta tudo. O nível deste país caíu a pique, superando a vulgaridade (...). Para cúmulo, temos o pior presidente da História. Ser norte-americano podia ser um orgulho no meu tempo, mas agora, com este idiota... Eu tinha Roosevelt num altar, era meu pai, meu herói».

Monday, November 21, 2005



Planos para fazer a trouxa

... Ou não chegar a desmanchá-la. Vi este livro na Bertrand do Chiado e não resisti. A autora, jornalista da Condé Nast Traveller e outras publicações especializadas, escolhe lugares de sonho nos cinco continentes e diz porquê, incluindo de Portugal, Óbidos, Estremoz, Évora, Marvão e o Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Ainda que, por uma questão de €, seja melhor esquecer as sugestões de alojamento, não deixa de proporcionar alguns prazeres por antecipação.

Friday, November 18, 2005

Contos de António Manuel Venda

É um jovem autor de vasta obra narrativa. Depois de publicar vários romances, regressa (e bem) à dura disciplina dos contos com o livro O Amor por entre os Dedos, editado na bela Colecção Literatura Universal da Ambar. Vai acompanhar o meu fim-de-semana e começa assim: «Promessas de que não haveria de ficar atrapalhado, isso tinha o jovem escritor feito muitas. A si próprio. Em certos momentos, tinha-se achado seguro, muitos momentos até, mas agora, na auto-estrada, quase a chegar, começava a sentir-se inquieto, nervoso, como se o medo entrasse mesmo através dos vidros do carro. De onde é que viria o medo? E como seria capaz de entrar, com o carro a passar dos cento e vinte?»


Cumplicidade profunda é...

... Ver O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes (a versão original, entenda-se) na RTP Memória, enquanto ao telefone se comenta a beleza de cada plano.

Wednesday, November 16, 2005






Em louvor dos trintões

É um rapaz da «minha criação» e uma das caras mais bonitas do futebol internacional. Aos 37 anos, o italiano Paolo Maldini renovou o contrato com o seu clube de sempre (o A.C Milan), pulverizando os records de longevidade dum jogador na sua posição. Se ele é velho, eu quero trabalhar num centro de dia.

Tuesday, November 15, 2005



Um filme a não perder

O meu fim-de-semana não foi só frivolidade, asseguro-vos. Domingo à noite, depois de tanta reviravolta por essa cidade fora, sentei-me no sofá e vi o DVD de Pollock que, estupidamente, perdera no cinema. Fiquei deslumbrada por esse exercício de inteligência tecido em torno da complexa personalidade de Jackson Pollock, considerado por alguns o melhor pintor norte-americano do século XX. Realizado pelo seu principal actor (o excelente Ed Harris, a quem, salvo erro, Hollywood ainda não brindou com o Oscar), mostra como em Pollock genialidade convivia com neurose e um ego descomunal que sacrificava todos à sua passagem, a começar - como é uso nestes casos - pela própria mulher.

Monday, November 14, 2005

Um fraco por trapinhos

Sim, confesso que gosto de moda, coisa que cria alguma perplexidade no «ganha-pão». No passado sábado, acompanhada pela minha cúmplice favorita nestas matérias, furei entre a turba de adolescentes enlouquecidas, enfrentei, (quase) sem um instante de ira, o ineficaz atendimento do «H&M» lisboeta. Motivo: a pequena colecção desenhada por Stella MacCartney para esta cadeia «low-price». O sucesso foi tal que, ao fim de poucos dias na loja, já eram muito poucas as peças sobrantes, mas, in extremis, ainda consegui uma túnica que me vai dar muito jeito numa festa que eu cá sei.

Friday, November 11, 2005




O menino dança?

Esta noite, às 22, os Pink Martini subirão ao palco da Aula Magna. Com um título destes no blog, claro que não poderia faltar. Puro divertimento, este grupo multi-nacionalidades encara cada canção como se fosse um filme - daqueles italianos dos anos 50/60, com baixo orçamento, mas cheios de charme.

Tuesday, November 08, 2005




Morreu John Fowles

Sou uma mocinha razoavelmente decidida mas nunca consegui fazer listas de livros (ou filmes) favoritos, ou pelo menos, de dá-las como definitivas. Sei, no entanto, que se as fizesse o romance A Amante do Tenente Francês estaria lá, hoje e sempre. Quando dava aulas, usava-o para explicar o século XIX aos alunos, mas o livro é tão bem construído que ultrapassa facilmente quaisquer categorias literárias a que o queiramos submeter. John Fowles, o autor britânico que o escreveu, morreu no passado sábado, aos 76 anos. Esta é, pois, uma breve nota de homenagem.

Monday, November 07, 2005

O que foi não torna a ser

(em jeito de resposta à Pé)

Há uma espécie de sabedoria interna nas relações. Talvez não pareça, sobretudo quando sentes - como eu já senti tantas vezes - que dás mais, muito mais, do que recebes. Experimenta não lutar tanto, deixa-te ir na corrente como quando estás concentrada na tua natação: inspira, expira, pensa só na massagem da água nos teus membros. Já fui amiga de todo o género de pessoas, algumas trairam-me; outras, pura e simplesmente, desapareceram de circulação; outras ainda ficaram porque tudo nos une, mesmo as diferenças de comportamento ou de destino. Das que desapareceram de circulação, algumas durante longos anos, houve quem voltasse. Sabemos que o que foi não torna a ser, como cantam os Xutos, mas não temos medo porque, afinal, pode ser muito melhor. Regressaram porque, apesar de tantas voltas que a vida dá sobretudo com a mobilidade que hoje é possível, nunca tinham partido completamente. Ontem reencontrei uma amiga de infância. Não nos víamos há uma eternidade - talvez 15, 18 anos - e retomámos a conversa com a facilidade de quem se vira na véspera. A outros perdi-os de vista há um mês e já não sei como retomar o contacto. Não sei exactamente porquê. Alguns não serão piores pessoas do que os que me acompanham vida fora, mas, para citar o lugar-comum, o coração tem razões que a razão desconhece. Creio que há que decifrá-las devagarinho, sem amargura nem fugas para a frente.

Friday, November 04, 2005


«I know nothing in the world that has as much power as a word. Sometimes I write one, and I look at it, until it begins to shine»
Emily Dickinson

Colei esta frase na capa do Moleskine que abri hoje. Também eu preciso da palavra que me ilumine o caminho da escrita.


Wednesday, November 02, 2005


Estão perdoados. O sentido de humor ajuda sempre a desculpar qualquer coisinha.


A noite das bruxas foi uma verdadeira festa que teve o seu momento alto quando, para exorcizar agouros, lemos este uníssono esta ladaínha que mão amiga atirou para o caldeirão

Ladainha da Grande Queimada das Bruxas

Sapos e bruxas, mouchos e crujas,
demonhos, trasgos e dianhos, spírtos das eneboadas beigas, corvos, pegas e meigas,
feitiços das mezinheiras, lume andante dos podres canhotos furados,
luzinha dos bichos andantes, luz de mortos penantes,
mau olhado, negra inveija, ar de mortos, trevões e raios, uivar de cão, piar de moucho,
pecadora língua de má mulher casada cum home belho.
Vade retro, Satanás, prás pedras cagadeiras!

Lume de cadávres ardentes, mutilados corpos dos indecentes peidos de infernais cus.
Barriga inútil de mulher solteira, miar de gatos que andam à janeira, guedelha porca de cabra mal parida!
Com esta culher levantarei labaredas deste lume, que se parece co do Inferno.

Fugirão daqui as bruxas, por riba de silbaredos e por baixo de carbalhedos, a cabalo na sua bassoira de gesta, pra se juntarem nos campos de Gualdim. pra se banharem na fonte do areal do Pereira...
Oubide! Oubide os rugidos das que estão a arder nesta caldeira de lume.
E cando esta mistela baixe polas nossas gorjas, ficaremos libres dos males e de todo o embruxamento.

Forças do ar, terra, mar e lume, a vós requero esta chamada: Se é verdade que tendes mais poder que as humanas gentes, fazei que os spírtos ausentes dos amigos que andam fora participem connosco desta queimada!