Happy Birthday, Penguin Books!
Um livro ao preço de um maço de tabaco: foi com este «ovo de Colombo» que o editor inglês Allen Lane criou a Penguin Books, consumando a chamada «revolução do paperback». Corria o ano de 1935 e, regressado de um encontro com Agatha Christie, Lane descobriu, com espanto, que a loja da estação ferroviária em que ia embarcar não tinha qualquer edição «portátil» da que era já uma das escritoras mais conhecidas da Grã-Bretanha. Decidido a mudar este panorama, apostou na criação de uma nova chancela que pusesse a grande literatura ao alcance de todas as bolsas. Assim nascia um autêntico império que, hoje, quando comemora 70 anos de existência, está espalhado por 13 países (Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia, Índia e África do Sul), emprega cerca de 4 mil pessoas e apresenta receitas anuais na ordem dos 700 milhões de libras.
O irresistível sucesso da marca é tão mais surpreendente quando esta nasceu num mundo totalmente diverso do nosso, em condições que hoje despertam um sorriso. Ao decidir dar-lhe o nome de Penguin, Allen Lane mandou um funcionário ao Zoo de Londres para fazer uma série de estudos de pinguins. Dessa tarefa resultaria um dos logótipos mais conhecidos pelos leitores de todo o mundo. Ao módico preço de seis pences, a nova editora publicaria, logo no primeiro ano de funcionamento, uma vintena de livros, em que avultam Farewell to Arms, de Hemingway; The Misterious Affair at Styles, de Agatha Chistrie, The Thin Man, de Dashiell Hammett e The Edwardians, de Vita Sackville-West.
O sucesso foi tal que, em 1937, a Penguin criaria uma sub-empresa – a Pelican Books – vocacionada para leituras de carácter pedagógico, como, aliás, ficava demonstrado logo com o primeiro título da colecção: The Intelligent Woman’s Guide to Socialism and Capitalism, de George Bernard Shaw. Seguir-se-ia, em 1945, a abertura da colecção de clássicos da Literatura Mundial (the Penguin Classics) com a tradução da Odisseia, de Homero, por E.V.Rieu. Nesta série – totalmente reeditada no ano passado, por ocasião do seu 60ºaniversário – saíram, entre dezenas e dezenas de títulos, a Bíblia e a Epopeia de Gilgamesh. Viriam ainda a Puffin Books (para a literatura infanto-juvenil), a Allen Lane (para o ensaio), a Penguin Special (para o ensaio político) e a Peregrine Books (para guias de viagens).
Não se pense, porém, que os responsáveis da Penguin jogaram sempre pelo seguro. 1960 ficará na História da editora como o ano em que pôs à venda O Amante de Lady Chatterley, de D.H. Lawrence. Apesar de escrito em 1928, dois anos antes da morte do escritor, o romance permanecia inédito na Grã-Bretanha devido à alegada obscenidade da sua temática (uma mulher da nobreza que procura fora do casamento a satisfação sexual que o marido não lhe proporcionava). Não seria a última vez que a Penguin enfrentaria as morais estabelecidas: no final dos anos 80, ocorreria nova polémica com a publicação de Versículos Satânicos, de Salman Rushdie. Foi o pranto, o ranger de dentes e uma chuva de ameaças entre algumas facções islâmicas radicais. Apesar das agressões cometidas contra alguns tradutores da obra fora de Grã-Bretanha, e mesmo uma tentativa de assassinato contra o seu editor norueguês, William Nygaard, a Penguin não mudou de rota. Também, no mercado livreiro, o «espectáculo» não pode parar.
1 comment:
que interessante esta história!!
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